Folha de S. Paulo


Exterior traz mais risco do que eleições de 2018, diz presidente da Bolsa

Rahel Patrasso/Xinhua
(170822) -- SAO PAULO, agosto 22, 2017 (Xinhua) -- Personas caminan frente a
Pessoas caminham em frente ao prédio da Bolsa de Valores, em São Paulo

O excesso de dinheiro dos investidores estrangeiros e a eventual retirada dos estímulos monetários pelos países desenvolvidos representam um risco maior ao mercado financeiro do que a volatilidade eleitoral de 2018, afirmou na noite desta quinta (24) Gilson Finkelsztain, presidente da B3, dona da Bolsa brasileira.

As declarações foram dadas antes da abertura do 8º Congresso Internacional de Mercados Financeiro e de Capitais, em Campos do Jordão (SP).

"Acho que o maior risco está nos mercados lá fora. Os Estados Unidos estão com juros muito baixos, com uma perspectiva de aperto monetário, de retirada de incentivos tanto nos EUA quanto na Europa", afirmou.

A eliminação desses estímulos pode inibir fluxos para mercados emergentes. "Esse é um risco que já está na agenda há bastante tempo e continua, na minha visão, sendo um risco maior", ressaltou Finkelsztain.

Ainda assim, o presidente da B3 reconhece que as eleições presidenciais de 2018 devem trazer instabilidade ao mercado local.

"É óbvio que a eleição também traz volatilidade. Eu tenho uma certa visão, alinhada com o mercado financeiro, de que o brasileiro é conservador e que a gente vai ter um candidato que não vai ser radical", afirmou.

Ele trabalha com um cenário de vitória de candidato "talvez de centro-direita, que ninguém sabe ainda quem é."

"Isso tudo deve ficar mais claro no final do ano ou início do ano que vem, mas eu acho que a gente não vai ter uma ruptura muito grande nem para uma extrema-esquerda nem para uma extrema-direita na eleição", ressaltou.

Para Finkelsztain, é difícil afirmar se o atual otimismo do mercado financeiro é exagerado. Nesta quinta, a Bolsa brasileira fechou no maior nível em 52 meses, enquanto o dólar se manteve praticamente estável, cotado a R$ 3,14.

"Eu não sei se é demais. Depois de 25 anos de mercado financeiro eu não me arrisco a dizer se está barato ou se está caro. Porque você quebra a cara", diz.

"Se a gente olhasse o mercado, contasse essa mesma história para alguém que ficasse congelado por alguns anos, ele falaria: 'Isso não pode ser o Brasil. Está tão ruim assim e o câmbio está R$ 3,10, a Bolsa 71 mil e o juro de 7%. Deve ser outro país'. Então não me arrisco a dizer se está certo ou errado", complementou.

PRIVATIZAÇÕES

Finkelsztain elogiou a agenda de reformas do governo do presidente Michel Temer.

"O governo está fazendo o possível e o impossível para endereçar reformas no Congresso que são importantes para essa estabilidade do mercado de capitais", afirmou.

Mas, ressaltou, é preciso que a agenda econômica seja acompanhada de apoio político. "O estrangeiro está muito de olho no que o Congresso está votando, principalmente do lado fiscal, da reforma da Previdência", disse. "Não mascarar que a situação fiscal não é tão simples. O Brasil tem que fazer uma reforma fiscal porque não cabe em suas contas."

Caso as propostas de privatizações e reforma não se concretizem, "vai ser uma decepção", afirmou.

"Todo mundo espera uma pequena reforma. Ninguém está esperando uma grande reforma. O mercado tem demonstrado que espera a primeira parte da reforma", disse Finkelsztain, citando a idade mínima como exemplo.

Um revés na aprovação da reforma traz o risco de que algumas das ofertas públicas de ações em estudo não sigam adiante, conclui o executivo.

O presidente da B3 também comentou as recentes privatizações anunciadas pelo Planalto. Sobre a Eletrobras, afirmou que a iniciativa é "fenomenal".

"Via diluição do controle e emissão de novas ações, melhor ainda. Para a gente, fomenta o mercado de capitais, traz governança para uma companhia que, por longa data, os acionistas questionaram e questionam práticas de governança ".

A jornalista viajou a convite da B3


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