Folha de S. Paulo


Presidente da Eletrobras afirma que governo manterá fatia 'importante'

Paulo Whitaker/REUTERS
Presidente da Eletrobras, Wilson Ferreira Jr.
Presidente da Eletrobras, Wilson Ferreira Jr.

O presidente da Eletrobras, Wilson Ferreira Jr, disse acreditar que o governo manterá fatia "importante" na empresa após a privatização, que tem previsão de ocorrer até o segundo semestre de 2018.

Ele defende que a pulverização do capital permitirá que a companhia volte a crescer, pagando mais impostos e dividendos aos acionistas.

"Uma Eletrobras mais eficiente vai gerar mais resultado, vai remunerar seus acionistas com dividendo, o que nunca fez. Se gera lucro, paga Imposto de Renda. Para o contribuinte, para o cidadão, é muito melhor", afirmou.

AS CONTAS DA EMPRESA - Em R$ bilhões

Frisando que não há decisão sobre o modelo, ele disse preferir a proposta de aumento de capital, com diluição da fatia do governo e a atração de outros acionistas, por representar injeção de recursos.

"A perspectiva de um aumento de capital pode significar o crescimento da empresa", afirmou. Nesse caso, a tendência é atrair investidores pessoais ou institucionais que buscam menor risco, em vez de empresas de energia.

"O setor elétrico no mundo inteiro tem, como costuma se chamar, 'ações de viúva', que são investidores institucionais que querem ter estabilidade de retorno ou pessoas físicas que querem ter perspectiva de complementar sua aposentadoria com o pagamento estável de dividendos."

O governo manterá uma golden share, ação que lhe dá poder de veto em decisões estratégicas mesmo sendo minoritário —algumas questões já foram definidas: a Eletrobras não poderá mudar de nome e terá que manter investimentos na revitalização do rio São Francisco.

Mas Ferreira não crê que a saída da União seja completa, até porque a empresa está voltando a dar lucro e, como consequência, voltará a pagar dividendos. "Certamente não fará isso. Acho que ela continuará tendo uma participação importante."

Com a privatização, o executivo acredita que a empresa abrirá acesso a captações mais baratas e ampliará sua capacidade de investimento, prejudicada por anos de prejuízos e políticas públicas que reduziram sua rentabilidade.

E A CONTA DE LUZ?
Perguntas e respostas sobre a privatização

A venda da Eletrobras vai aumentar a conta de luz?

A venda, em si, não. Mas há perspectiva de aumento com a mudança no sistema de venda de energia por usinas que hoje usam o regime de cotas, que têm preços mais baixos. Os controladores dessas usinas podem optar por vender a energia no mercado a preços maiores. O processo de privatização prevê que a Eletrobras ganhe recursos para optar pela mudança, que demandará o pagamento de uma espécie de bônus de outorga

O impacto seria apenas pela mudança nas usinas da Eletrobras?

Não. Hoje, 91 usinas hidrelétricas no país atendem aos requisitos para optar pela mudança no regime de venda, com uma capacidade total de 29.000 MW. Delas, 14 são da Eletrobras, que representam quase a metade da capacidade total das usinas que podem aderir à mudança. Espera-se que todas optem pela mudança, já que a receita será maior

De quanto seria o impacto?

O governo estima que, se todas as usinas aderirem, a conta de luz subiria 7%. Mas argumenta que outras medidas do novo marco regulatório do setor, como o uso de parte do dinheiro pago como bônus de outorga para reduzir encargos setoriais cobrados na conta de luz, podem mitigar a alta

Quando o aumento ocorreria?

A partir do momento em que as usinas passarem a vender sua energia no mercado. O projeto de mudança do novo marco regulatório do setor, porém, ainda está em discussão com o mercado. Depois disso, ainda precisa ser aprovado pelo Congresso. O governo trabalha para que esse processo seja concluído em paralelo com o processo de privatização da Eletrobras

É possível que o aumento seja mitigado no futuro, como diz o governo?

Para grandes consumidores, isso dependeria de fatores como risco hidrológico e expansão do sistema. Para o professor Nivalde de Castro, do Grupo de Estudos de Energia Elétrica da UFRJ, ganhos de eficiência da Eletrobras tendem a ser incorporados ao resultado da empresa para pagar dividendos aos acionistas, em vez de serem repassados ao consumidor. Ele alerta ainda para o risco de os recursos obtidos com o bônus de outorga das usinas que aderirem à mudança no sistema de venda de energia ficarem com o Tesouro para melhorar o resultado fiscal

Raio-X da Eletrobras

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