Folha de S. Paulo


'Festas de conserto' pregam fim do desperdício e preservação

Reprodução/Facebook
Participantes de festa de conserto em Jacarta, Indonésia
Participantes de festa de conserto em Jacarta, na Indonésia

Quando foi a última vez que você consertou algo?

A globalização nos propiciou produtos importados
baratos, o que resultou em deflação de preços e em um ciclo de substituição curto.

Os produtos novos são tão baratos que em geral não compensa em termos econômicos pagar para que alguém os conserte caso quebrem. Com o tempo, perdemos gradualmente as capacidades transmitidas pelas gerações precedentes para o conserto de coisas quebradas.

Mas a reação começou, como mostram as chamadas festas de "restart".

O conceito desse movimento, que está em ascensão, é simples: "Reparar o nosso relacionamento com os produtos eletrônicos".

Pessoas levam impressoras, laptops, ventiladores, toca-discos antigos e outros aparelhos quebrados para "consertadores" voluntários, que mostram que seus objetos ainda poderiam durar anos, por meio de consertos simples.

O objetivo das festas, organizadas pela empresa britânica Restart Project, não é só gerar economia de dinheiro como ajudar a salvar o planeta.

Os anfitriões das festas "restart" em todo o mundo já impediram que um total de cinco toneladas em aparelhos eletrônicos fossem jogadas no lixo. Isso impressiona
-até que você descubra que a previsão para 2018 é que criemos 50 milhões de toneladas em resíduos, com aparelhos eletrônicos descartados.

Hoje em dia, há legiões de pessoas on-line ensinando como consertar as coisas, em lugar de jogá-las fora. Há até um hashtag no Twitter, #SOSRestart, que as pessoas empregam para publicar fotos de objetos com defeitos complicados, na esperança de obter conselhos da comunidade dos consertadores.

O site norte-americano iFixit.org se define como o manual de reparos grátis da internet, e seu conteúdo, com vídeos e manuais de instrução, ensina como fazer reparos. Os mais de 600 mil membros da comunidade exigem o "direito de consertar" as coisas que compram.

"Quando você paga por um produto, o fabricante não deveria ter o direito de ditar como você deve usá-lo", o site afirma. "Mas é exatamente isso que alguns fabricantes tentam. É uma prática comum recusar o fornecimento de peças, ferramentas e instruções aos consumidores e pequenas oficinas de consertos."

O iFixit afirma que isso alimenta a cultura do descarte. Mas reciclagem nem sempre é a resposta, diz o site. O argumento é que o imenso volume de resíduos de aparelhos elétricos torna a reciclagem insustentável em longo prazo "e muito menos ecológica do que alguns fabricantes gostariam de levá-lo a acreditar".

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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