Folha de S. Paulo


Exterior vira opção permanente de moradia para fugir da crise

Arquivo Pessoal
O economista portugues Vasco Severo e a familia voltaram para Portugal com menos perspectivas no Brasil Credito: Divulgacao/Acervo pessoal ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
Família do economista português Vasco Severo, que não pensa em voltar a viver no Brasil

Quem resolveu deixar o Brasil por causa da crise não pensa em voltar, e o número de famílias que saem para outros países continua crescendo.

Os vistos de imigrante concedidos pelo governo norte-americano a brasileiros somaram 3.287 no ano passado. É o dobro do registrado em 2014.

"Não tem um mês em que a gente não converse com outras pessoas que querem saber o passo a passo para vir para cá", diz a empresária Vivian Mayrink Cirillo, que se mudou com o marido e os três filhos para a cidade de Weston, na Flórida (EUA), há dois anos e meio.

No ano passado, quando a Folha a entrevistou, ela já entrevia a possibilidade de não voltar ao Brasil, embora tenha mantido sua empresa de gestão de marcas funcionando no país natal.

Mãe de uma menina de 7 anos e dois gêmeos de 4, ela diz que a vida no Brasil é ainda mais remota agora.

"A fase de transição já passou, e a ideia de voltar vai ficando cada vez mais longe", diz ela. "Saímos porque não víamos possibilidade de nossos filhos ou netos viverem em um país que funciona."

Segundo Vivian, seus filhos mantêm uma referência forte do Brasil, mas consideram os EUA sua casa.

O economista português Vasco Severo, que voltou para Lisboa depois de quatro anos no Brasil, também não pensa em retornar.

"Quando cheguei ao Brasil, era muito contatado por portugueses que queriam ir para aí. Agora são os brasileiros que me escrevem a querer vir para cá", afirma.

"O Brasil saiu do radar dos jovens qualificados que buscam trabalho", afirma o economista.

Fernando Donasci/Folhapress
18.08.2017 - Portugal - Vasco Severo, economista portugues, chegou ao Brasil transferido em 2012 para trabalhar como consultor. Quando casou, em 2013, havia outros 40 portugueses na sua festa. Em 2015, ainda em São Paulo, começou a ser contatado para trabalhos na Europa e acabou resolvendo voltar para lá. Daquees 40, em 2016, só 4 de seus convidados ainda moravam no Brasil. Hoje só restam 2. Além disso, passou a ser contatado por amigos brasileiros que querem se instalar em Portugal. Vasco pensa em ter o terceiro filho e acha que dificilmente conseguiria manter uma familia maior no Brasil, a nãoser que o salário fosse muito bom. Foto: Fernando Donasci/Folhapress
O economista Vasco Severo, em Portugal

Severo chegou ao Brasil em 2012, transferido pela consultoria para a qual trabalhava.

"Não havia projetos na Europa, só na América Latina." Em 2016, com a situação invertida, passou a trabalhar, de São Paulo, em projetos na Europa.

O salário em reais deixou de valer a pena, e ele decidiu buscar outro emprego em Lisboa.

Severo conta que em 2013, quando se casou no Brasil, havia 40 portugueses na festa. No ano passado, apenas 4 ainda estavam no Brasil. Hoje, restam apenas 2.

"Um amigo, que é arquiteto e durante anos no Brasil nem tinha tempo para tirar férias, aceitou trabalho no Kuwait porque deixou de ter trabalho no Brasil", diz Severo.

Segundo ele, os patrões primeiro sugeriram que seu amigo tirasse as férias em atraso, depois puseram-no a fazer trabalhos menores, logo despediram os estagiários e disseram que, se continuassem sem encomendas, iam ter de despedir mais gente.

Em Portugal, ele virou referência para brasileiros à procura de um novo país para morar. "São muitos casos, todos de pessoas qualificadas."

Na sua opinião, isso terá impacto no futuro. "Quando um país não está bem, fica mais pobre também em recursos humanos", diz.

Severo afirma que sua família foi muito feliz no Brasil, mas acha difícil que voltem ao país.

"Gostávamos de ter um terceiro filho, pelo que são precisas condições financeiras muito boas para mantermos no Brasil o padrão de vida que temos em Portugal. Os salários são baixos cá, mas sei que no limite tenho sempre saúde e educação de confiança e sem custos. "

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