Folha de S. Paulo


Diversidade melhora decisões empresariais, diz vice do Itaú

Marlene Bergamo/Folhapress
Claudia Politanski, vice-presidente do Itaú Unibanco
Claudia Politanski, vice-presidente do Itaú Unibanco

O aumento da diversidade entre os funcionários melhora o processo de tomada de decisão das empresas.

A opinião é de Claudia Politanski, vice-presidente e membro do comitê executivo do Itaú Unibanco. Única mulher na cúpula do banco, ela é a responsável por transformar a diversidade "em um valor".

No caso da desigualdade de gênero, Politanski ressalta que, "enquanto a atribuição da responsabilidade [nas famílias] for toda da mulher, é difícil imaginar que, nas empresas, teremos equidade".

Diversidade

A gente começou a pensar nesse assunto quando percebeu que tendia a ter pessoas muito iguais. As pessoas precisam estar compradas com a nossa cultura, mas elas podem pensar diferente e isso faz com que a discussão dos assuntos, a forma de conduzir os negócios, seja mais ampla.

Desequilíbrios

Temos mais mulheres do que homens, mais do que na população, mas, quando olhamos cargos de liderança, percebemos que o percentual de mulheres vai decrescendo. Quando a gente olha a questão racial, num país de maioria negra, a gente tem não só menos negros do que a população mas menos negros do que o sistema financeiro.

No caso dos portadores de deficiência, sempre cumprimos a lei de cotas. Mas não temos portadores de deficiência ocupando posições de liderança. A discussão LGBT é sensível porque, no final das contas, o que a gente espera das pessoas? A gente espera que elas se sintam à vontade para colocar seus pontos. Por isso, para cada uma dessas questões, traçamos uma estratégia.

Gênero

Fomos olhar se as mulheres [no banco] têm formação diferente da dos homens. E não, é exatamente igual. Quando a gente olha a performance, também é igual. Então, o que acontece? Na transição de coordenador para gerente, você está em torno dos 30 anos, que é o momento da maternidade. Não acho que exista uma só questão, mas esta é certamente relevante.

Viés inconsciente

A gente fez um trabalho tentando entender isso, que incluiu uma representação gráfica. Começa com a imagem de uma executiva arrumadinha e termina com ela de terno todo desarrumado, com carrinho de feira, bebê no colo. No fim das contas, as pessoas pensam: aquela mulher, quando tiver cerca de 25 anos, vai casar, vai cuidar dos filhos.

Tem isso. Mas tem também o lado do trabalho duro. Enquanto a atribuição da responsabilidade [nas famílias] for toda da mulher, é difícil imaginar que, nas empresas, teremos equidade. Falo porque já vivi isso. É muito difícil.

Filhas

Tenho duas filhas adultas. Tive a primeira com 22 anos. Estava trabalhando, recém-formada, e me lembro que deixar aquele bebezinho e ir trabalhar, meu Deus do céu... O propósito da maternidade é uma coisa muito forte. Você precisa ter no seu trabalho algo muito forte também, que faça diferença na sua vida.

Sempre gostei muito do que fazia e tracei uma estratégia. Quando eu estava no banco, estava no banco. Todo o tempo remanescente, meu e do meu marido, era das meninas. Nunca tive empregada que dormisse, nunca tive babá no fim de semana. Quando estava em casa, as filhas eram minhas.

Políticas

Aprovamos uma política para mães e gestantes. No mês da volta da licença, o horário é de três horas a menos para quem tem jornada de oito horas e de duas a menos para as com jornada de seis. As metas são suspensas. Não sei se é suficiente, mas mostra a preocupação e põe o assunto na mesa.

A gente também tem feito um compartilhamento das experiências. Eu ouvia muito de mulheres: não sei o que vai ser dos meus filhos. Eu pensei: tenho filhas adultas, absolutamente normais, bacanas pra caramba. Aí fiz um painel com elas no banco. E ficou claro que a lembrança da ausência delas é muito focada em exemplos específicos, como "você faltou uma apresentação de balé porque tinha uma viagem para o exterior". Mas, se a pergunta for: "Você sentiu falta da presença da sua mãe na infância e na adolescência?", a resposta será não.


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