Folha de S. Paulo


Brasil demora para ter mulheres em cúpulas de empresas

O número de mulheres ocupando cargos nas cúpulas das empresas brasileiras tem avançado vagarosamente nos últimos anos.

Dados de relatório recente da consultoria Deloitte mostram que a participação feminina em conselhos de administração de 64 companhias de médio e grande porte passou de 6,3% para 7,7% entre 2015 e 2017.

O aumento de 1,4 ponto percentual representou pouco menos da metade do crescimento médio de 3 pontos percentuais registrado pelos 44 países pesquisados.

Ficou muito aquém ainda dos saltos de nações desenvolvidas que perseguem essa agenda há mais tempo, como Nova Zelândia e Noruega, com aumentos de, respectivamente, 10 e 5 pontos percentuais, e de alguns emergentes como Colômbia (alta de 7,5 pontos percentuais).

LONGA CAMINHADA - Participação de mulheres em conselhos de administração em 2017, em %

Segundo Camila Araújo, sócia da Deloitte, é possível que, com a crise econômica e as denúncias de corrupção que afetaram o mundo corporativo, a agenda da diversidade tenha ficado temporariamente em segundo plano.

"Outras pautas, como a necessidade de reforçar a área de 'compliance' das empresas, se tornaram muito urgentes. Mas a tendência de busca por maior participação feminina é anterior aos últimos dois anos e vai continuar."

Segundo a consultoria Great Place to Work (GPTW), entre as empresas consideradas as melhores para trabalhar no Brasil, a parcela de mulheres em cargos de chefia passou de 11% para 33% do total entre 1997 e 2016.

O número de presidentes de empresas do sexo feminino também tem crescido.

Elas eram 13% entre as 150 companhias classificadas pela GPTW como as mais atrativas para os funcionários no ano passado e passaram a representar 16% do total de comandantes neste ano.

"Pode parecer pouco, mas não é. Em um passado não muito remoto, era raríssimo encontrar uma CEO mulher", diz Lina Eiko Nakata, gerente de conteúdo da consultoria.

DISCUSSÃO

Apesar dos avanços graduais, grandes empresas começam a falar mais abertamente sobre abaixa representação feminina em cargos de gestão.

Elas apontam a existência de um nó em sua hierarquia que impede que as mulheres avancem no mesmo ritmo que os homens a partir de um momento da carreira que tende a coincidir com a maternidade.

No Santander, por exemplo, a fatia total de chefes do sexo feminino chega a 37% no Brasil. Mas, quando o recorte é feito do cargo de superintendente para cima, o percentual cai para 23%.

O mesmo ocorre no Itaú Unibanco. As mulheres representavam 51% dos coordenadores, 36% dos gerentes, 24% dos superintendentes e 13% dos diretores, em março.

"Conforme a gente vai subindo na hierarquia do banco, vai perdendo representação da sociedade", afirma Claudia Politanski, vice-presidente do Itaú Unibanco.

Ela ressalta que os números do banco vêm melhorando –em 2003, as diretoras mulheres eram 3%, mas que há um longo caminho pela frente. "No comitê executivo, sou só eu. E, no conselho, a gente não tem nenhuma mulher", afirma a executiva.

Por causa desse tipo de diagnóstico, mais empresas têm discutido internamente as barreiras ao avanço feminino e adotado medidas como metas de elevar a parcela feminina em cargos de gestão.

Outra ação que tem se tornado mais comum é tentar garantir que nos processos seletivos para vagas de chefia exista pelo menos uma mulher tanto entre os responsáveis pela decisão quanto entre os candidatos.


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