Com a pressão de partidos do centrão, o presidente Michel Temer fará a partir da próxima semana trocas em cargos ocupados por apadrinhados de deputados federais do PMDB que votaram a favor do prosseguimento da denúncia por corrupção passiva.
O Palácio do Planalto deve retaliar Celso Pansera (RJ), Laura Carneiro (RJ), Veneziano do Rêgo (PB) e Vitor Valim (CE). Os cargos serão distribuídos regionalmente, ou seja, a parlamentares do centrão que votaram a favor do presidente e são dos mesmos Estados dos infiéis.
O esforço do peemedebista é, assim, tentar reorganizar a base aliada para uma nova denúncia que deverá ser apresentada até o início de setembro pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, desta vez por obstrução judicial.
O presidente também quer apaziguar os ânimos dos partidos do centrão, que ameaçam impor derrota ao Palácio do Planalto na pauta econômica, como a medida provisória do Refis, cuja expectativa é de que gere R$ 13 milhões.
Nesta quinta-feira (10), a Executiva Nacional do PMDB também suspendeu por 60 dias os parlamentares do partido que votaram a favor da denúncia. O partido havia fechado questão em votar favoravelmente ao presidente.
A sigla encaminhou um ofício ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral) e à secretaria-geral da mesa da Câmara comunicando a decisão.
Na semana que vem, o Palácio do Planalto também deve acelerar as trocas no segundo e terceiro escalões em outros partidos da base aliada. O peemedebista analisa um mapa de votação preparado pela liderança do governo na Câmara dos Deputados que mostra vinte traições de última hora.
Na lista, estão, por exemplo, Sérgio Reis (PRB-SP) e César Halum (PRB-TO). O presidente ainda não definiu se também tirará cargos do PSDB, partido considerado o principal fiador do governo e que atualmente está dividido sobre o apoio ao presidente.
REAÇÕES
A liderança do PMDB na Câmara deve definir na próxima semana se os parlamentares suspensos serão retirados de relatorias ou de comissões em que representam o partido. Parlamentares atingidos pelo ato reagiram ao posicionamento do presidente nacional, senador Romero Jucá (RR).
Valim disse ter sido pego de surpresa com a decisão e disse ser uma "ironia" o ato vir de Jucá. "Na política, a minha história é completamente diferente da dele. Eu mantenho a minha coerência do lado do povo trabalhador. Ele mantém a coerência dele do lado de governo" disse, afirmando estar de "consciência tranquila" por ter tomado uma decisão "correta e coerente" com o que pensa.
"É de ficar perplexo figuras como Romero Jucá ficarem exigindo de alguém alguma coisa. Mas é isso mesmo", afirmou.
Já Sergio Szveiter (RJ), autor do relatório que recomendava o prosseguimento da denúncia de Temer, disse que a decisão, da qual também é alvo, é "ridícula e covarde". "Um partido que usa o expediente inescrupuloso de distribuição de emendas parlamentares, cargos e de ameaças de punição ao direito democrático do parlamentar votar não tem autoridade moral de punir quem quer que seja", disse.
Apesar de ter sido suspenso pelo PMDB, o deputado fluminense não será afetado pelo ato do governo por não possuir nenhum cargo. "Não sou de frequentar o Palácio [do Planalto] de pires na mão e não tenho cargo na liderança no PMDB da Câmara. Tal suspensão em nada me afetará", disse.
Para Jarbas Vasconcelos (PE), a punição é "esdrúxula" e algo "completamente sem sentido". Na opinião dele, a iniciativa reforça avaliação de que é "fraca" e "despreparada" a atual direção nacional do PMDB.
"Ao longo de toda a minha trajetória dentro do partido, nunca vi algo parecido. O respeito às ideias e posicionamentos é algo fundamental e o caminho pelo qual está seguindo hoje o PMDB ignora completamente essa condição", disse.