Folha de S. Paulo


Criação de empregos surpreende, e governo antecipa divulgação de dado

O país criou em julho 35,9 mil vagas de emprego com carteira de trabalho assinada, segundo dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados).

O resultado positivo surpreendeu economistas e animou o Ministério do Trabalho, que antecipou a divulgação dos dados oficiais, dois dias após o fim da coleta das informações das empresas.

A principal surpresa veio da indústria de transformação, que abriu 12.594 postos de trabalho formais em julho, o que está levando economistas a rever suas previsões para o mercado de trabalho neste ano. Até a construção civil voltou a gerar vagas, após 33 meses seguidos no vermelho.

Bruno Ottoni, economista da Fundação Getulio Vargas, afirmou que sua expectativa era que, entre julho e setembro, fossem geradas 92 mil vagas. Ele espera a confirmação da tendência com a pesquisa do emprego do IBGE para provavelmente rever sua estimativa para cima.

Saldo das vagas no emprego formal - Série com ajustes, em mil

"Aumentou a confiança de uma recuperação mais sustentável do emprego", disse.

Thiago Xavier, da consultoria Tendências, também colocou em revisão sua previsão de que o desemprego fechará o ano em 12,2% —em junho, o percentual de desocupados foi de 13%, de acordo com a Pnad Contínua, do IBGE.

"Imaginávamos que a taxa ia cair mais lentamente, mas a ocupação está em um ritmo melhor do que se previa."

Responsável pelos dados oficiais, o ministro Ronaldo Nogueira também não escondeu o otimismo na divulgação: "O país não terá mais números números negativos neste ano", afirmou. Alertado imediatamente por sua equipe técnica, ressalvou: "O país não terá mais números negativos até novembro".

Em dezembro, a estatística oficial rotineiramente vai para o terreno negativo, pois as empresas costumam colocar em dia demissões não registradas ao longo do ano.

ANTECIPAÇÃO

O governo passa por um momento difícil no campo econômico, com o presidente Michel Temer tendo que escolher entre o aumento de impostos ou o reconhecimento de um deficit fiscal maior que o previsto. Nesse contexto, coube ao Ministério do Trabalho a boa notícia da vez.

Assim, a divulgação das estatísticas oficiais de emprego, que costuma ocorrer perto da segunda quinzena do mês —ou depois—, foi antecipada para esta quarta (9).

DADOS INCOMPLETOS

Na pressa, porém, alguns detalhamentos da pesquisa não ficaram prontos.

A abertura de admissões e demissões por subsetores, por exemplo, não estava disponível na internet, de acordo com Thiago Xavier, da Tendências. Tampouco resultados acumulados em 12 meses ou a revisão dos meses anteriores.

"Quando o dado é negativo, o Ministério do Trabalho atrasa um pouquinho e escolhe uma sexta-feira à tarde para divulgar o Caged", diz Hélio Zylberztajn, professor da USP e coordenador do Salariômetro, da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisa).

Mário Magalhães, coordenador geral de estatísticas do trabalho, disse que houve problema no processamento dos dados pela Dataprev, o que, somado ao prazo exíguo, levou à falta de detalhamentos.

Segundo Zylberztajn, o essencial foi entregue, ou seja, o saldo de vagas.

"Não é um soluço nem uma recuperação o que ocorreu em julho. Estamos falando de sete meses de estabilidade."


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