Folha de S. Paulo


Melhora no mercado de trabalho já era contemplada pelo BC, diz Ilan Goldfajn

Adriana Spaca/Brazil Photo Press/Folhapress
Banco Central mantém ritmo de corte da Selic e reduz juros para 10,25%
Presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn

O presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, afirmou nesta quarta-feira (9) que a recuperação do mercado de trabalho está vindo "um pouquinho mais rápida", mas que esse movimento já estava contemplado no cenário do BC, que também considera o crescimento econômico e o retorno do consumo e dos investimentos.

Ilan argumentou que normalmente o PIB (Produto Interno Bruto) e o consumo mostram recuperação antes que o emprego, o que não está sendo observado. "É só uma questão de que variável vem antes. Mas quando você olha o todo, é uma recuperação gradual", afirmou Ilan em entrevista durante o Reuters Latin American Investment Summit, ao ser questionado se isso já estava incorporado no cenário do BC.

Ilan também avaliou que a inflação medida pelo IPCA em julho, que subiu 0,24%, acima do esperado pelo mercado, foi afetada pelo repasse dos preços de combustíveis, um pouco mais rápido do que o imaginado.

"Hoje, eles [preços monitorados] estão mais voláteis, é preciso ver a tendência", afirmou. "Mudanças pontuais mês a mês não interferem na política monetária", acrescentou.

Em 12 meses, o IPCA acumula alta de apenas 2,71%, abaixo do piso da meta oficial, de 4,5% pelo IPCA, com margem de 1,5 ponto percentual.

Questionado se o comportamento amplamente favorável da inflação não corroborava visão de que o BC poderia ter sido mais agressivo no corte de juros e ajudar na recuperação da economia, Ilan afirmou que era preciso antes concluir o trabalho de ancoragem das expectativas de inflação.

"Eu acho que a gente tem que ficar satisfeito de ter uma política... que permite que os juros sejam mais baixos. A gente tem que sair um pouco dessa ideia de que a inflação tem que sempre ficar ou na meta ou acima dela. Ela tem que flutuar em torno da meta", completou.

No fim do mês passado, o BC cortou a Selic em 1 ponto percentual, ao patamar de 9,25% ao ano, e indicou que deve repetir a dose na próxima reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), em setembro.

TLP

Na entrevista, o presidente do BC reiterou a importância da TJL (Taxa de Longo Prazo), proposta pelo governo para substituir a TJLP como referência para os empréstimos concedidos pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).

Ilan disse ainda que o banco de fomento continuará tendo liberdade para definir as taxas finais aos tomadores de empréstimos, e que isso não demanda alteração no projeto enviado ao Congresso Nacional sobre o tema.

"Eu acho que tem que dar um certo conforto para a sociedade que as pequenas e médias empresas vão continuar sendo razão do motivo de empréstimo do BNDES", afirmou.

"Dependendo para quem você empresta, o tamanho [da empresa], coloca uma taxa maior ou menor... Esse olhar diferenciado, o BNDES vai continuar fazendo", acrescentou Ilan.

REFORMAS

Ao ser questionado sobre qual o cenário o BC levava em consideração sobre as reformas para a condução da política monetária, Ilan disse que a avaliação é "subjetiva" e "mais ampla".

"Basicamente o que a gente olha é se as reformas vão colocar as contas públicas em ordem, se elas permitirão ao Brasil crescer mais rápido e se permitirão que a taxa estrutural da economia seja menor", disse.

Sobre as eleições presidenciais do ano que vem e seu impacto sobre a economia e o mercado, Ilan afirmou ser "difícil saber".

"A gente vai olhar a economia sempre. Como sempre, a gente não vai olhar a política, a gente vai olhar sempre os impactos do que tiver no mercado, na economia real, e isso a gente vai usar para poder tomar as nossas decisões", afirmou.

Sobre o cenário externo, ele repetiu que há espaço para que continue benigno e que o BC segue confortável com o nível atual de swaps cambiais, em torno de US$ 28 bilhões.

"Conforto significa que não tem problema nenhum de aumentar ou de diminuir ou de ficar igual", disse.

Depois de o BC ter apontado em outras ocasiões que avaliava melhorar o caminho para bancos estrangeiros poderem atuar no país, Ilan indicou que o assunto saiu da pauta. O BC é o responsável por analisar e referendar a entrada de instituições estrangeiras interessadas em operar no Brasil, mas é preciso um decreto presidencial.


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