Folha de S. Paulo


Toyota faz parceria com Mazda para encarar Google, Apple e Amazon

Jacky Naegelen/REUTERS
Toyota anunciou novo presidente para comandar as operações no Brasil a partir de 2 de janeiro
Fábrica para carros elétricos e autônomos terá capacidade anual para produzir 300 mil veículos

Toyota e Mazda construirão juntas uma fábrica de US$ 1,6 bilhão nos Estados Unidos e coordenarão seu desenvolvimento de carros elétricos e autônomos, como parte de um acordo de parceria mais amplo entre as duas montadoras de automóveis japonesas.

Em uma vitória para a agenda de investimento nos Estados Unidos promovida pelo presidente Donald Trump, Toyota e Mazda iniciarão a construção de uma fábrica com capacidade anual para produzir 300 mil veículos, e que criará quatro mil empregos.

A fábrica, que deve começar a operar em 2021, provavelmente causará forte concorrência entre Estados americanos, que oferecerão os melhores termos aos grupos japoneses para atrai-los aos seus territórios.

As duas companhias japonesas também formarão uma aliança acionária, com a aquisição de cerca de 5,05% das ações da Mazda pela Toyota, em um acordo visto como alerta aos gigantes de tecnologia do Vale do Silício para que fiquem longe da Mazda, em seus esforços por ingressar no segmento de carros elétricos.

"Enfrentamos concorrentes novos como Google, Apple, Amazon e outros", disse Akyo Toyoda, presidente da Toyota, ao anunciar o acordo.

A Mazda, que anteriormente não dispunha de recursos para ingressar na dispendiosa corrida para desenvolver carros elétricos e autônomos, agora colaborará com a divisão de pesquisa e desenvolvimento da Toyota, muito bem capitalizada. A montadora adquirirá uma participarão acionária de 0,25% na Toyota.

A Toyota já opera fábricas nos Estados Unidos americanos de Kentucky, Mississipi e Texas. Para a Mazda, que não tem fábricas nos Estados Unidos, o acordo reduzirá os significativos riscos comerciais e cambiais em que incorre ao exportar carros para o país.

AMEAÇA DE TRUMP

Parte desse risco ficou aparente em janeiro, quando Trump ameaçou tributar pesadamente a importação de carros, objetando especificamente aos planos da Toyota de montar carros no México e exportá-los aos Estados Unidos.

Toyoda declarou na entrevista coletiva que a decisão de construir uma fábrica nos Estados Unidos "não tinha relação" com a ameaça que Trump fez em janeiro.

Mesmo assim, a Toyota foi a primeira montadora japonesa a anunciar novos investimentos nos Estados Unidos, desde janeiro, ainda que seus planos tenham surgido antes da eleição de Trump. Em janeiro, a companhia anunciou que investiria US$ 10 bilhões nos Estados Unidos nos próximos cinco anos.

Três meses depois, quando a companhia japonesa indicou que o mesmo plano incluiria investimento de US$ 1,3 bilhão em sua fábrica no Kentucky, Trump declarou que isso era um novo sinal da confiança das empresas quanto ao clima econômico dos Estados Unidos.

Analistas questionaram a lógica industrial da decisão, dada a ampla capacidade da Toyota nos Estados Unidos e sua capacidade de desenvolver tecnologia para veículos elétricos por conta própria.

Christopher Richter, analista automobilístico na CLSA, de Tóquio, disse que a Toyota provavelmente estava considerando a ameaça que poderia surgir se a Apple ou o Google adquirisse a Mazda.

"A Toyota deve ter visto a Mazda como arma mais perigosa disponível, e provavelmente não queria que a alguém a capturasse e apontasse contra ela", disse Richter. "Os 5% da Mazda que ela agora detém são uma placa de 'entrada proibida' para as ações da empresa".

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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