Folha de S. Paulo


Airbus põe em xeque futuro do A380 após 2 anos sem encomendas

O futuro do A380, o maior jato de passageiros do planeta, está em xeque depois que a Airbus reduziu o ritmo de produção do superjumbo pela segunda vez em 12 meses e sinalizou não estar otimista quanto à obtenção de novos pedidos em curto prazo.

A decisão de reduzir o ritmo de produção a menos de um aparelho por mês será vista por muita gente no setor como sinal de que o programa, que custou muito caro por estouros de orçamento e atrasos, será encerrado.

As companhias de aviação vêm enfrentando dificuldades para lotar o gigantesco aparelho, ainda que os passageiros que viajam no A380 costumem classificá-lo como um de seus aviões favoritos.

Com dois andares, o A380 é o maior avião comercial do mundo. Dependendo da configuração, transporta mais de 800 passageiros.

Faz mais de dois anos que o A380 não recebe encomendas novas, e a Airbus anunciou no ano passado que reduziria a produção do modelo de 27 unidades anuais em 2015 a apenas 12 em 2018. Thomas Enders, o presidente-executivo da Airbus, anunciou na semana passada que o volume de produção seria de oito unidades em 2019.

Enders insistiu em que o superjumbo tem futuro, afirmando que cortes na produção dariam à empresa tempo para tornar o modelo mais atraente para compradores.

Ele disse que o ritmo de produção de oito unidades anuais poderia ser sustentado até 2020, mas se admitiu pessimista sobre a conquista de novas encomendas do modelo neste ano.

O A380 é o mais notório dos diversos programas problemáticos na gigante europeia da aviação e defesa.

A Airbus também admitiu que talvez venha a enfrentar dificuldades com as entregas de seu mais recente modelo A320neo, um jato de fuselagem estreita, devido a problemas com as turbinas Pratt & Whiney GTF que equipam cerca de metade dos aviões produzidos.

A empresa pode, ainda, ter de ajustar o volume de produção de outro de seus programas problemáticos, o do jato militar A400M.

"Temos muito a resolver no segundo semestre", disse Enders. "Acho que conseguiremos fazê-lo, mas [todos] os nossos principais programas estão sofrendo desgaste e pressão. Mas não estou preparando um alerta de que não cumpriremos nossa projeção de lucro. Continuo otimista."

PRESSÃO

A Airbus e sua rival Boeing estão sob pressão para produzir em volume sem precedentes, a fim de satisfazer pedidos recordes acumulados em quase uma década de encomendas.

Enders criticou severamente a Pratt & Whitney pelos problemas persistentes de suas inovadoras turbinas. "A situação com os fabricantes de turbinas é claramente insatisfatória", ele disse.

A Pratt & Whitney desenvolveu algumas correções para os problemas, disse Enders, mas "essas melhoras ainda não se provaram confiáveis, sob condições normais de serviço".

A despeito dos programas problemáticos, Enders disse que a Airbus aumentaria a produção do A350, um jato de fuselagem larga, que, segundo ele, vem transcorrendo sem problemas.

Na divisão de defesa, as negociações com os governos compradores do problemático transporte militar A400M vinham sendo "muito construtivas", disse Enders.

A Airbus se viu forçada a absorver custos adicionais de bilhões de euros devido a problemas com o software das turbinas, dificuldades de produção, e, mais recentemente, problemas de transmissão. O A400M continua a ser "o grande elefante na sala", disse Enders, e advertiu que "não se pode esperar uma grande solução em poucos meses". Ele disse que a empresa estava considerando reduzir o volume de produção para absorver estoques.

Enders disse que, a despeito desses problemas, a Airbus manteria sua projeção de crescimento da ordem de 5% neste ano, com 700 entregas –se os problemas com turbinas forem resolvidos.

A Airbus conquistou € 37,2 bilhões em encomendas no primeiro semestre, ante € 39,1 bilhões no mesmo período em 2016. No final de junho, sua carteira de encomendas foi avaliada em € 981 milhões, ante € 1,06 bilhão no fim de 2016.

A receita com aviões comerciais cresceu em 3%, com a entrega de 306 aparelhos (ante 298 no primeiro semestre de 2016).

A receita com helicópteros subiu em 9%, com a entrega de 190 unidades (ante 163 no primeiro semestre de 2016). Nos setores de defesa e espaço, a receita caiu em € 1,2 bilhão em razão da venda de subsidiárias.

Tradução de PAULO MIGLIACCI


Endereço da página:

Links no texto: