Folha de S. Paulo


Montadoras de carros alemãs serão investigadas por formação de cartel

Uma nova investigação da União Europeia quanto a problemas de competição entre as maiores montadoras de automóveis da Alemanha ameaça a credibilidade de todo o setor, alertou uma ministra alemã, depois de Bruxelas ter confirmado seu inquérito sobre suspeitas de conluio setorial na área de tecnologia.

Se forem provadas, as acusações podem criar uma nova crise para o setor automobilístico, já abalado pelo escândalo de trapaça nos testes de emissão de poluentes da Volkswagen.

Brigitte Zypries, ministra da Economia da Alemanha, disse que "levava muito a sério" as acusações de que Volkswagen, Audi, Porsche, BMW e Daimler vinham havia anos mantendo grupos de trabalho sigilosos sobre tecnologia.

"O que está em jogo aqui é nada menos que a credibilidade... de toda a indústria automobilística alemã", disse Zypries. Ela acrescentou que todas as montadoras implicadas nas acusações "fariam bem em cooperar plenamente com as autoridades e garantir que haja transparência".

A Comissão Europeia anunciou ter recebido informações sobre o suposto conluio, e que as estava avaliando. O órgão executivo europeu anunciou que era "prematuro especular quanto ao assunto, por enquanto".

O comunicado parece ser confirmação parcial de uma reportagem da revista alemã "Der Spiegel", que revelou que todas as grandes montadoras alemãs de automóveis vêm realizando reuniões secretas entre grupos de trabalho, desde os anos 90, para chegar a acordos quanto a preços de componentes e seleção de fornecedores.

Uma revelação envolve um produto conhecido como AdBlue, uma solução de ureia líquida usada para neutralizar as emissões de poluentes dos veículos diesel. A "Der Spiegel" afirmou que os grupos de trabalho haviam concordado no uso de tanques pequenos de AdBlue nos carros produzidos pelas grandes montadoras; tanques maiores cumpririam melhor a função requerida, mas custariam mais caro. O volume de AdBlue disponível nos tanques menores é insuficiente para purificar as emissões.

A maioria das empresas, cujas ações despencaram na sexta-feira (21) quando vazaram as revelações da "Der Spiegel", se recusou a comentar. Mas a BMW negou categoricamente a informação de que tenha se envolvido em conluio com outras montadoras ou que seus tanques de AdBlue fossem pequenos demais. A montadora afirmou que sua tecnologia de tratamento de gases de escapamento era "claramente diferenciada" da tecnologia adotada por seus rivais.

A "Der Spiegel" citou um documento judicial entregue pela Volkswagen às autoridades da União Europeia, segundo a revista, e afirmou que a Daimler havia encaminhado documento semelhante a Bruxelas. A revista afirmou que suas revelações poderiam se tornar um dos maiores processos antitruste da história da Alemanha.

Arnd Ellinghorst, analista da Evercore, disse que se o conluio apontado for confirmado, as montadoras poderiam encarar multas da ordem de "centenas de milhões ou alguns bilhões de euros".

Tradução de PAULO MIGLIACCI


Endereço da página:

Links no texto: