Folha de S. Paulo


Grandes fundos globais perdem com aposta no Brasil

Investir em títulos dos mercados de países emergentes continuou, no segundo trimestre, a ser um bom negócio, mas grandes fundos globais que apostaram no Brasil e em outros países da região ficaram a ver poeira no período.

Fundos especializados em países em desenvolvimento como o Pictet Asset Management, o Neuberger Berman Group e o RBC Global Asset Management fecharam o primeiro semestre com o pior desempenho em sua categoria.

Boa parte desses problemas de desempenho se relaciona à América Latina, que vinha sendo uma das regiões favoritas dos maiores fundos de títulos desde 2016.

Os títulos de dívida da região se provaram menos lucrativos neste ano, dados os escândalos de corrupção que abalam os presidentes do Brasil e do Peru.

Os títulos de dívida pública latino-americanos denominados em dólares apresentaram retorno de 5,8% nos seis meses até junho, ante a média de 14% de 2016.

Um dos mais afetados foi o Pictet Short Term Emerging Corporate Bonds Fund, que fez uma forte aposta em títulos de empresas brasileiras nos meses que antecederam maio, quando os papéis desabaram após a delação da JBS que atingiu o governo do presidente Michel Temer.

O fundo teve a pior colocação entre os que operam com títulos de dívida de países em desenvolvimento e capital mínimo de US$ 1 bilhão. Ele teve retorno de 2,2% no período, ante o retorno médio de 7,6% do segmento.

O Neuberger Berman Short Duration Emerging Market Debt Fund sofreu com sua exposição ao Brasil e a títulos da JBS. O fundo obteve retorno de 2,4% nos seis primeiros meses do ano.

O fundo, que favorece títulos de menor volatilidade, adquiriu mais papéis brasileiros depois que irrompeu o escândalo sobre Temer, considerando que os títulos eram atraentes, na cotação que então apresentavam.

Um dos líderes de 2016, o BlackRock Emerging Market Bond Fund teve retorno de 5% no primeiro semestre, já que apostas em títulos venezuelanos e russos não foram capazes de reproduzir os retornos obtidos em 2016.

O Ashmore Emerging Markets Debt Fund também perdeu terreno. A aposta em títulos de Venezuela e Equador o ajudou a superar os rivais no ano passado, quando esses papéis apresentaram os mais altos ganhos no planeta. Nos últimos seis meses, porém, o fundo se viu superado por quase dois terços de seus concorrentes, quando essas posições se reverteram.

MELHORA

Títulos de curto prazo do Brasil e da Venezuela apresentaram baixo desempenho no início do ano e devem se recuperar agora, segundo Greg Saichin, vice-presidente da Allianz Global Investors.

"Para o Brasil, o escândalo já teve seus efeitos incorporados aos preços, de certa forma, e os investidores conhecem os cenários possíveis no contexto da queda da inflação e futuros cortes de juros."

"No caso da Venezuela, creio que seja difícil imaginar problemas de crédito mesmo em 2017, se o país tiver liquidez para manter em dia o pagamento dos juros e do principal de sua dívida."

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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