Folha de S. Paulo


FMI reduz projeção de crescimento do Brasil em 2018 de 1,7% para 1,3%

Yin Bogu/Xinhua
FMI manifestou confiança de que Christine Lagarde pode continuar à frente da instituição
A diretora-gerente do FMI, Christine Lagarde

O FMI (Fundo Monetário Internacional) reduziu as estimativas para o crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) do Brasil em 2018, de 1,7% para 1,3%, embora tenha subido levemente a estimativa para o PIB deste ano, de alta de 0,2% para 0,3%.

Os efeitos da crise política especialmente sobre sobre os investimentos privados explicam o maior pessimismo para 2018 em relação ao cenário traçado pelo fundo em abril.

Em documento divulgado nesta quinta-feira (13) sobre o Brasil, o Fundo diz que indicadores econômicos recentes sugerem que a economia brasileira está próxima de um ponto de virada, o que coloca a profunda recessão aparentemente próxima do fim.

O cenário foi concluído pós-delação da JBS e leva em conta que a reforma da Previdência seja aprovada com pouca diluição neste ou no próximo ano. Os riscos de isso não ocorrer, no entanto, cresceram.

Segundo o Fundo, um primeiro trimestre mais forte do que o esperado justifica a leve melhora para a projeção deste ano.

No entanto, o crescimento muito concentrado nos segmentos de agricultura e de exportações indica que há muito a fazer para a economia se recuperar mais fortemente, especialmente com relação ao consumo e ao investimento.

A nova projeção aproxima o FMI da expectativa do governo para o PIB deste ano (de +0,5%), mas está mais distante dos 2,5% esperados pelo governo para o ano que vem. Já economistas consultados pelo Boletim Focus, do Banco Central, esperam alta de 0,34% em 2017 e 2% em 2018.

Para o FMI, o recente aumento da incerteza política lança dúvidas sobre perspectiva para o país. No médio prazo, a expansão deve se manter ao redor de 2%.

A inflação, no entanto, é um fator positivo e abre espaço para que a política monetária siga no sentido de baixar ainda mais a taxa Selic.

Além dos preços, o deficit externo sob controle, o câmbio flutuante e sua capacidade de absorver choques e o volume de reservas são pontos fortes da economia brasileira.

A expectativa é de um deficit em conta corrente de 2% neste ano, totalmente financiado pelo investimento externo, o IDP.

DÚVIDAS NO CAMPO FISCAL

O FMI diz ainda que capacidade do governo de aprovar a reforma da Previdência, passo necessário para garantir a sustentabilidade fiscal, tornou-se mais incerta e, com eleições programadas para 2018, a janela para mudanças legislativas está se fechando.

As projeções pressupõem, no entanto, que um conjunto de medidas suficientemente fortes para garantir a sustentabilidade fiscal será efetivado.

O principal risco político é que a reforma da Previdência termine severamente diluída ou postergada para o próximo governo, provocando reações adversas ao mercado no curto prazo e exigindo medidas fiscais adicionais em um prazo mais longo.

Respeitado o teto para os gastos públicos, a expectativa é que a dívida pública chegue ao auge em 2022 ou 2023 e comece a cair em 2024.

No pico, a dívida pública deve alcançar até 93% do PIB, de acordo com a metodologia do FMI, que difere da do governo brasileiro e deixa a dívida um pouco mais alta.

Do lado externo, os temores são um aperto mais rápido do que o esperado das condições financeiras globais e, com menor probabilidade de ocorrer, uma desaceleração mais forte da economia chinesa.

Os diretores expressaram preocupação com as finanças subnacionais e encorajam as autoridades a continuar a desenvolver soluções duráveis em coordenação com os Estados.

O Fundo reforça ainda a necessidade de a reforma atingir os servidores todos os níveis de governo tendo em vista tendências demográficas desfavoráveis e grandes desequilíbrios atuariais.

INFLAÇÃO

A inflação, diz o FMI, está em trajetória descendente, influenciada pela maior ociosidade na economia, pela queda das expectativas de inflação e por um choque favorável de alimentos.

Para o Fundo, a inflação deve ficar abaixo da meta neste e no próximo ano. Para 2017, a expectativa é que os preços medidos pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) fiquem em 4%.

O ritmo de afrouxamento monetário é visto como apropriado pelo fundo, e a ociosidade da economia e inflação abaixo da meta são poderosos argumentos para que a política monetária continue nessa direção.

A decisão de reduzir a meta de inflação para 4,25% em 2019 e 4% em 2020 deixará o Brasil mais próximo de países com meta de inflação, diz o FMI.

A recessão, por sua vez, tem sido o principal fator a puxar o deficit em conta-corrente para baixo e a taxa de juros tem funcionado bem de forma a absorver choques.

Apesar da recessão, o relatório destaca ainda a saúde do setor bancário, com os lucros em elevação devido a altas margens de juros e menores custos. Para limitar a inadimplência, os bancos continuam renegociando empréstimos.

Os diretores do fundo sublinham que outras reformas estruturais, como a do mercado de trabalho e na área de infraestrutura, são essenciais para aumentar o crescimento a longo prazo.


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