Folha de S. Paulo


Produção da indústria aumenta, mas recuperação é pouco vigorosa

Pedro Revillion/Palácio Piratini
Brasil perde competitividade pelo sétimo ano e fica em antepenúltimo em ranking
Soldador em fábrica; setor da indústria cresce 0,8% em maio, diz IBGE

A produção industrial brasileira cresceu em maio pelo segundo mês consecutivo, e desta vez com alta generalizada entre as diversas atividades econômicas. Para economistas, porém, o resultado não garante a recuperação do setor, que puxou para baixo o PIB no primeiro trimestre.

A alta em maio foi de 0,8%, o melhor desempenho para o mês desde 2011, de acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Em abril, segundo dados revisados agora pelo instituto, o crescimento foi de 1,1%.

O coordenador da pesquisa industrial do IBGE, André Macedo, destacou que houve crescimento em todas as quatro grandes categorias analisadas pelo instituto: bens de capital (3,5%), bens intermediários (0,3%), bens de consumo duráveis (6,7%) e não duráveis e intermediários (0,7%).

Além disso, 17 dos 24 ramos da indústria pesquisados tiveram alta no mês, com destaque para veículos automotores, reboques e carrocerias (9%), produtos alimentícios (2,7%) e produtos de limpeza e higiene pessoal (4%).

"Há claramente um predomínio de taxas positivas e todas as categorias econômicas registraram crescimento", disse o economista do IBGE, que observou, porém, que a indústria ainda está no patamar de fevereiro de 2009.

Produção industrial - Variação em %

"É claro que, com dois meses seguidos de crescimento e com espalhamento pelas atividades, dá um alívio, mas o resultado está longe de garantir que seja uma trajetória de crescimento sustentável para o setor industrial", disse.

A cautela foi reforçada por outros economistas, que destacaram indicadores já referentes a junho como sinais de que a curva de alta pode desacelerar ou até mesmo se inverter. Para Artur Manoel Passos, dados já divulgados sobre a confiança da indústria, utilização da capacidade instalada, comércio exterior e consumo de energia sinalizam queda de 0,7% na produção industrial de junho.

Divulgado na segunda (3), o índice de confiança empresarial da FGV caiu 2,1 pontos em junho, para o menor patamar desde fevereiro, diante da piora do cenário político.

"Acredito que o resultado de maio praticamente não captou o que ocorreu no front político. O indicador de junho certamente mostrará desaceleração", diz Alexandre Espírito Santo, da Órama Investimentos, que, ainda assim, acredita que o setor apresentará melhora até o fim do ano.

Em maio, tiveram desempenho negativo a produção de coque, derivados de petróleo e biocombustíveis (-2,2%), que sofrem com a queda no consumo e o aumento das importações, e produtos farmoquímicos e farmacêuticos (-7,6%). Os dois segmentos haviam crescido em abril.

Na comparação com o mesmo mês do ano passado, a produção industrial cresceu 4% em maio, informou o IBGE. Nos cinco primeiros meses de 2017, a produção industrial acumula alta de 0,5%.

A TODO VAPOR? - Variação da produção industrial acumulada em 12 meses, em %

ERRÁTICO

Para Macedo, o comportamento da produção industrial ainda é "errático" e se dá sobre uma base deprimida no ano passado. Nos primeiros cinco meses de 2016, o indicador registrou queda de 9,3%.

"Permanece um ambiente de incerteza no campo político que traz também incertezas no ambiente econômico, principalmente quando se fala em decisões de investimento e no consumo das famílias", afirmou o economista.

No acumulado de 12 meses, a produção industrial brasileira ainda registra queda, de 2,4%. O valor, porém, é menor do que o verificado em meses anteriores. Em maio, pela primeira vez desde 2014, a produção de bens de capital e bens de consumo duráveis atingiu taxas positivas em 12 meses.

Desempenho da produção por grandes categorias, em % -


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