Folha de S. Paulo


Dificuldades orçamentárias são entrave para IBGE

Fabio Teixeira/Folhapress
Sede do IBGE, no centro do Rio de Janeiro
Sede do IBGE, no centro do Rio de Janeiro

Com as contas no vermelho, o governo cogitou cortar a verba que o IBGE receberia neste ano para fazer o Censo Agropecuário. A pesquisa vai a campo com atraso devido a restrições orçamentárias no passado.

O risco levou o então presidente do instituto, Paulo Rabello de Castro, a ir a Brasília repetidamente atrás de apoio da bancada ruralista no Congresso.

Foi com uma emenda parlamentar -que impõe a despesa ao Executivo- que o IBGE conseguiu agarrar R$ 505 milhões (metade do que solicitara) para iniciar a pesquisa, considerada fundamental para atualizar informações sobre a produção agropecuária.

Dificuldades orçamentárias não são um fato novo na rotina do IBGE. Nesta segunda (26), o instituto inicia a nova edição da POF (Pesquisa de Orçamentos Familiares) com dois anos de atraso. Prevista para 2015, ela foi suspensa devido a um corte de despesas que congelou a contratação de servidores em 2014.

O atraso não é indolor. A pesquisa atualiza informações sobre o comportamento de consumo dos brasileiros, o que subsidia, por exemplo, o cálculo da inflação. Segundo economistas, a desatualização pode estar interferindo no resultado.

O diretor de Pesquisas do IBGE, Cláudio Crespo, admite a restrição financeira, mas nega que isso interfira no trabalho do instituto.

"Queremos mais orçamento? Queremos. Queremos mais funcionários? Queremos", afirmou.

"Mas isso não coloca em xeque a qualidade do que é produzido hoje pelo IBGE. Agora, precisamos de mais recursos para projetos futuros."

Sob demanda do governo, que usa os dados para a formulação de políticas públicas, o IBGE faz estudos para uma pesquisa sobre saúde e outra sobre vitimização. O orçamento, porém, não se expandiu na última década.

Em 2016, a verba destinada ao órgão foi 10% menor do que a de dez anos antes, se levar em conta a inflação.

"Dos anos 1980 para cá, o IBGE vem sendo sucateado. Não teve a atenção que merecia do Orçamento. O quadro técnico é excelente, mas descontinuaram muitas pesquisas nos últimos anos", afirma o presidente do Insper, Marcos Lisboa.

Nos anos 1980 e 1990, conta Crespo, o IBGE não teve permissão para fazer concursos, o que teve como consequência o atual cenário: boa parte dos servidores está próxima de se aposentar.

O próprio presidente do instituto, Roberto Olinto, já poderia ter se afastado.

Crespo ressalta que 600 servidores foram contratados e mais 300 deverão entrar em julho.

"Ainda precisamos de mais, mas já possível colocar em campo um projeto como a POF", diz.


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