Folha de S. Paulo


Saída de fundador da Uber deixa vácuo de poder na empresa

A saída de Travis Kalanick, 40, da presidência-executiva da Uber deixou um vácuo de poder na companhia que ele ajudou a fundar em 2009.

A renúncia de Kalanick, anunciada na madrugada desta quarta-feira (21), foi uma manobra coordenada por parte dos maiores investidores da empresa americana.

A decisão ocorreu em meio à pior crise já enfrentada pela companhia, que não só não tem um sucessor encaminhado para Kalanick como outros dois postos importantes (diretor financeiro e diretor operacional) estão vagos hoje.

A Uber vem enfrentando uma forte turbulência nos últimos meses, após uma série de escândalos, desde acusações de assédio sexual e sexismo na empresa, passando pelo uso de um software para enganar autoridades regulatórias de algumas cidades no mundo até a suspeitas de roubo de propriedade intelectual para a fabricação de carros autoguiados.

O movimento para retirar Kalanick do comando da empresa avaliada em mais de US$ 60 bilhões vai contra a cultura do Vale do Silício que valoriza a sabedoria de fundadores como Steve Jobs e Mark Zuckerberg, ignorando as suas deficiências.

Alguns investidores importantes, porém, manifestaram preocupação com a troca de presidente-executivo. Para eles, alguém de fora da empresa pode não conseguir manter a trajetória de forte crescimento da Uber.

"Se o presidente-executivo for apenas um executivo experiente, e não um visionário em transporte, nunca vamos atingir nosso potencial", afirmou Bradley Tusk, assessor e acionista da empresa.

"A Uber deveria ser em dez anos uma companhia de US$ 500 bilhões que comanda o setor de transporte, assim como a Amazon comanda o varejo e a Apple domina a área de tecnologia pessoal", afirmou Tusk.

O conselho da empresa estuda para o lugar de Kalanick executivos de grandes empresas como General Electric e outros titãs industriais, de acordo com um investidor.

"Eu acho que isso é um desastre", afirmou outro investidor que pediu anonimato.

"É melhor que o conselho de direção da Uber saiba o que está fazendo porque o sucesso da empresa agora é de inteira responsabilidade dele", completou.

Kalanick, que permanece no conselho, afirmou, em comunicado, que deixou a empresa "no momento mais difícil da minha vida". A mãe dele morreu em um acidente de barco no mês passado.

GORJETA

Na terça-feira (20), a Uber anunciou que permitirá pela primeira vez que motoristas recebam gorjeta por meio de seu aplicativo.

A iniciativa, que ao menos inicialmente só vale para os EUA, começou já a valer para motoristas das cidades de Houston, Minneapolis e Seattle. O recurso estará disponível para todos os motoristas do país até o fim de julho.

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CRIADORES E CRIATURAS
Fundadores que deixaram suas empresas

David Neeleman
Fundou a empresa aérea americana JetBlue em 1998, mas foi afastado nove anos depois. Na sequência criou a Azul, 3ª maior aérea do Brasil

Jack Dorsey
Saiu da presidência do Twitter em 2008, dois anos após sua fundação. Em 2015, conquistou o posto de volta, mas o resultado ainda é dúbio

Jerry Yang
O fundador do Yahoo! deixou de ser o CEO em 2009, após recusar oferta de US$ 47 bi da Microsoft. Empresa foi vendida agora por US$ 4,5 bi

Steve Jobs
Foi retirado do comando da Apple em 1985. Voltou 12 anos depois para a empresa criadora do iPhone, que hoje é a mais valiosa do mundo


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