Folha de S. Paulo


Feira de produtos católicos tem de máquina de dízimo a apartamento

Anna Virginia Balloussier/Folhapress
ExpoCatólica
Bonecas, capinhas de celular e máquina de dízimo na feira ExpoCatólica, encerrada no domingo

"Na Casa de meu Pai há muitas moradas", disse Jesus Cristo segundo a Bíblia. No Condomínio da Fé serão 1.223 apartamentos distribuídos em cinco torres, mais mil vagas em dois prédios-garagem, academia, salão de festas, biblioteca e uma capela. Média de R$ 100 mil por quitinete e R$ 168 mil por um dormitório.

O empreendimento, que se diz pioneiro no mercado imobiliário para o público religioso, começou a ser construído a 150 metros da Canção Nova, comunidade católica em Cachoeira Paulista (SP).
Foi uma das novidades da ExpoCatólica, que encerrou no domingo (11) sua 12ª edição com expectativa de mover R$ 20 milhões em quatro dias de evento e mais R$ 50 milhões nos próximos dois meses, por negócios lá iniciados.

O cálculo é de seu diretor, Fábio Castro, que elenca outros destaques no pavilhão do Expo Center Norte. Um deles é a start-up Dízimo Fiel, que introduz às igrejas católicas uma modalidade conhecida há anos no meio evangélico: contribuição às paróquias via cartão de débito ou crédito.

A princípio parece uma típica máquina Cielo, como as fartamente adotadas em cultos neopentecostais. É mais do que isso. Funciona assim: as paróquias compram o aparelho por R$ 1.500 mais taxa mensal de R$ 180. Na tela há opções customizadas, como "dízimo" e "ServoTicket".

Os fiéis fazem um pré-cadastro com dados pessoais e do cartão para entrar no sistema (aceita-se bandeiras Visa e MasterCard). Se quiser, a igreja adquire lotes do "sou dizimista fiel" (R$ 5 cada), chaveiro eletrônico para distribuir entre seus frequentadores.

No dia da missa, usando o chaveirinho ou inserindo CPF, eles informam à maquininha quanto querem dar à igreja.

Um diferencial, segundo Julio Antunes, um dos sócios: a impressão de recibo que identifica quem doou e quanto. "O padre pode acompanhar [o dízimo] por dia, semana, mês."

O dizimista não poderia se sentir pressionado, já que o clérigo sabe se alguém anda doando menos do que colegas? Pelo contrário, diz o também sócio Rômulo Duarte.

Existe, sim, o "medo da mercantilização da fé". Mas o fiel teria "mais transparência" para "entender que não está bancando o carro [do líder religioso], sabe para onde seu dinheiro está indo", fora que a igreja teria uma gestão mais eficiente, ele afirma.

Outro recurso, o ServoTicket foi criado para ser usado em eventos da igreja, como quermesses. A pessoa compra um "vale" (para pizza ou refresco, por exemplo), a máquina já debita de seu cartão cadastrado e imprime o tíquete.

"Fiéis têm medo, e paróquias também, de carregarem [dinheiro vivo] e serem assaltados", diz Antunes. Já foram 60 máquinas vendidas país afora, estima Duarte, que aponta o segmento evangélico como outro front a se desbravar.

Alguns produtos não serviriam a esse outro grupo cristão, como bonecos para crianças vestidos de freiras e frades e capinhas de celular com termos que só seguidores do papa usam. Algumas delas: "Miga sua loka, vamos rezar?" (evangélicos preferem o verbo "orar") e "Jesus é o caminho, Maria é o GPS" (a cultura evangélica reconhece a mãe de Jesus, mas não a concepção de santos em geral).

Um workshop de e-commerce no primeiro dia foi o GPS para guiar lojistas do setor com "um desconhecimento tremendo" das possibilidades da venda virtual, afirma Castro, o diretor da feira.

Não é a única pedra no caminho do mercado católico. A Expo sofreu o baque da crise. Há menos expositores, e os visitantes são mais tímidos na gastança. Segundo Castro, o espaço encolheu de 13 mil m² para menos de 10 mil m². "Para não parar, a gente diminui."


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