Folha de S. Paulo


Uber devolve milhões de dólares a motoristas de Nova York

Seth Wenig - 15.mar.17/Associated Press
FILE - In this Wednesday, March 15, 2017, file photo, a sign marks a pickup point for the Uber car service at LaGuardia Airport in New York. Uber's first report on employee diversity shows low numbers for women, especially in technology positions. Uber's report doesn't count drivers as employees. (AP Photo/Seth Wenig, File) ORG XMIT: NYBZ216
Ponto de embarque do Uber no aeroporto de LaGuardia, em Nova York

A Uber está restituindo dezenas de milhões de dólares em pagamentos indevidos feitos por seus motoristas em Nova York, depois lhes cobrar comissões superiores às que eles deviam por dois anos e meio.

Essa é a segunda grande restituição paga pela Uber neste ano, depois de um pagamento semelhante aos seus motoristas em Filadélfia, em março.

"O roubo pela Uber do dinheiro que os motoristas batalham muito para ganhar é só o mais recente exemplo das táticas matreiras usadas pelo setor", disse Jim Conigliaro, fundador da Independent Drivers' Guild, associação que representa milhares de motoristas da Uber em Nova York.

A associação apelou às autoridades regulatórias que investigassem as tarifas e práticas de pagamento adotadas pelo serviço de carros em Nova York.

A Uber informou que não havia percebido o erro anteriormente; o problema envolve a aplicação da comissão de 25% que a empresa recebe ao valor bruto da tarifa (que inclui imposto sobre as vendas) em lugar de ao seu valor líquido (que exclui o imposto).

Em Nova York, o resultado foi que a Uber abocanhou 2,6% a mais do que deveria em cada tarifa.

"Nosso compromisso é pagar a cada motorista cada centavo que lhe devemos —e com juros—, o mais rápido possível", disse Rachel Holt, diretora dos serviços de carros da Uber na América do Norte.

"Estamos trabalhando com afinco para reconquistar a confiança dos motoristas."

ESCÂNDALOS

A Uber vem sendo abalada por um escândalo depois do outro —entre os quais acusações de assédio sexual, um processo pelo suposto roubo de segredos comerciais, e a saída de diversos dos seus executivos mais importantes— e está enfrentando dificuldades para reparar seu relacionamento com os motoristas dos quais seu trabalho depende.

O relacionamento com os motoristas sofreu desgaste ainda maior em razão da mudança no modelo de preços adotada pela Uber.

Agora, os passageiros pagam tarifa diferente do que a recebida pelos motoristas de acordo com a duração e extensão da corrida.

O modelo original da Uber envolvia cobrar uma comissão sobre o valor pago pelos passageiros e entregar o restante do dinheiro recebido ao motorista.

Agora, ela desvinculou os valores pagos pelos passageiros e aos motoristas, nos maiores mercados dos Estados Unidos, e essencialmente está cobrando dos passageiros o valor que acha que eles se disporão a pagar por um dado trajeto.

"Temos preços diferentes para as rotas, com base no nosso entendimento das escolhas dos motoristas, para que possamos atender pessoas em mais lugares por valores que elas sejam capazes de pagar", disse um porta-voz da Uber.

Isso significa que passageiros em uma corrida de um bairro afluente a outro podem pagar mais que passageiros em uma corrida entre dois bairros pobres, por exemplo. Os passageiros sempre veem o preço da corrida antes de seu início, segundo o porta-voz.

A Uber define esse novo modelo de preços como "baseado em rotas".

Na segunda-feira (22), a Uber alterou o app usado por seus motoristas, depois que eles se queixaram de prejuízos com o novo sistema —com base, entre outras coisas, em uma pesquisa que constatou que a Uber em média se beneficiava mais que os motoristas da diferença entre os dois preços.

Agora, o app mostra três categorias diferentes de dados: o que o passageiro pagou, o que a Uber ganhou e o que o motorista ganhou.

Alguns críticos ainda acreditam que a Uber esteja cobrando comissões indevidamente alta dos motoristas.

"A quantia total que a Uber deve aos motoristas é muito mais alta do que aquela que a empresa admite agora", disse Bhairavi Desai, diretor-executivo do sindicato New York Taxi Workers Alliance.

Um processo movido pelo sindicato no ano passado já havia exposto o erro de cálculo, acrescentou.

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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