Folha de S. Paulo


Copiar modelos de negócio vencedores não garante sucesso

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Nova loja do estilista Ronaldo Fraga, em Belo Horizonte ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
Ambiente do Grande Hotel Ronado Fraga, em Belo Horizonte, criado a partir de croquis do estilista

Um dos maiores desafios do empreendedor de moda, segundo especialistas do setor, é conseguir traduzir, no produto e na apresentação, uma imagem de pioneirismo atrelada à empresa.

"É um erro copiar negócios consolidados. Não adianta achar que por um modelo ou tendência fazer sucesso, eles se mantêm no longo prazo. Estratégias na moda têm um ciclo de vida limitado", diz a coordenadora de pós-graduação da Faculdade de Tecnologia Senai-Antoine Skaf, Dilara Rubia.

Para "oxigenar o mercado" e a marca homônima da qual é dono, o estilista mineiro Ronaldo Fraga usou estratégia de colaboração para montar uma loja imersa em seu universo, o Grande Hotel Ronaldo Fraga, em Belo Horizonte.

Marcas de sapatos, adega de vinhos, peças de roupas e um espaço de eventos misturam-se no casarão reformado de 650 metros quadrados. A partir de junho, serão exibidos os primeiros filmes de um cineclube. "Era um sonho que planejava realizar. A moda precisa abraçar outras frentes para dialogar com mais pessoas", diz Fraga.

Com custo de R$ 500 mil, o projeto foi idealizado pelo estilista a partir de croquis com estética de cabarés.

Os artigos são dispostos em blocos pelas salas, com produtos presos às paredes e pelo chão. Há poucas araras.

"Existe uma falsa ideia de que o volume de produtos vai movimentar as vendas, os excessos podem confundir o consumidor. É preciso curadoria", diz Camila Salek, dona da agência Vimer.

Especialistas defendem que projetos de moda devem traçar um diagnóstico preciso do público-alvo, com relatos de potenciais clientes para o empresário saber como, quando e com qual frequência consomem. "Só assim o negócio pode atingir o cliente do jeito certo e descobrir hábitos que dificilmente são detectados em pesquisas de mercado", afirma Rubia.

Empresas que dão errado, em sua maioria, "não têm planejadas a entrega dos produtos, a logística de conseguir a matéria-prima e os tipos de canais de relacionamento com o cliente", diz a coordenadora.

Segundo a consultora do Sebrae São Paulo Letícia Gonçalves, não tentar concorrer com as grandes varejistas também é imperativo para deslanchar e se mostrar inovador para o mercado.

"Disputar pedaço de oceano com tubarão que está nadando é pedir para ser comido", afirma Gonçalves.

Ela lembra que lojas de rede como Zara e o e-commerce Ali Express mudaram a forma de consumir e produzir moda. No entanto, "não preenchem especificidades do consumo no século 21, como a questão da sustentabilidade", diz a consultora.

Esse é um dos motivos de haver tantas iniciativas que repensam a origem dos insumos e métodos de confecção, para que sejam menos agressivos ao meio ambiente e socialmente responsáveis.

Precificação justa e tino para identificar mudanças de comportamento do cliente entram na equação.

"Roupa é um produto projecional, consumido ou para suprir um desejo de se adequar ou para mudar a própria imagem. A marca pequena tem o trunfo de poder oferecer valores difíceis de aplicar na indústria do varejo de grande escala", diz Rubia.


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