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Retomada será afetada se reforma não passar no 1º semestre, diz Meirelles

Fábio Vieira/FotoRua/Folhapress
Ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, durante Congresso de Fundos de Investimento
Ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, durante Congresso de Fundos de Investimento

O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, voltou a afirmar nesta quarta-feira (10) que há sinais claros da retomada do crescimento na economia.

"Estamos saindo da pior recessão da história do país", disse ao discursar durante a nona edição do Congresso de Fundos de Investimento, realizado pela Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais), em São Paulo.

Segundo o ministro, a reforma da Previdência dá mais segurança para o país cumprir a meta do teto de gastos públicos. "Por isso, a reforma da Previdência é fundamental", disse. Meirelles reafirmou a expectativa de aprovação, ainda no primeiro semestre, tanto da reforma da Previdência quanto da reforma trabalhista.

REFORMA DA PREVIDÊNCIA
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"Se porventura alguma coisa der errado, e a votação for deixada para agosto, não é o ideal, mas numa reforma de longo prazo, não é isso que vai influenciar no sucesso da reforma. Previdência é uma reforma implantada por décadas", afirmou. Segundo o ministro, os próximos dois meses são fundamentais para a expectativa e para o crescimento econômico deste e do próximo ano. "Por conta disso, é importante que [as reformas] sejam aprovadas o mais rápido possível", ressaltou.

Em seu discurso, o ministro enfatizou o potencial de retomada do investimento como um dos fatores para o crescimento, diferentemente de períodos anteriores, quando o crédito foi o principal responsável pela expansão econômica.

Entre os sinais que indicam a recuperação, o ministro citou o crescimento da massa salarial real de 3% no primeiro trimestre. "O trabalhador ganhou poder de compra", afirmou Meirelles. Segundo ele, o consumo também está sendo favorecido pela liberação das contas inativas do FGTS (Fundo de Garantia de Tempo de Serviço).

Meirelles destacou que o setor agrícola vem liderando o processo de crescimento. Antes, o Conab previa safra de 212 milhões de toneladas, o representava crescimento de 14% sobre o ano anterior, mas o aumento acabou sendo de 22%, exemplificou o ministro. "A produtividade no campo cresceu, com controle maior de pragas. O nível de tecnologia é alto, tudo é automático, o que mostra um caminho a ser seguido pela economia brasileira como um todo", declarou.

O ministro defendeu que a retomada é baseada em um conjunto de reformas microeconômicas, confiança e melhores fundamentos. "A ideia é criar um país mais próspero", afirmou. Entre as medidas, Meirelles mencionou a mudança da TJLP para TLP, no início do próximo ano, com indexação às NTN-Bs (Notas do Tesouro Nacional - Série B). "Com a política fiscal responsável, a expectativa é que caia o custo da NTN-B e a TLP seja convertida para taxas de mercado."

Meirelles citou, ainda, a diminuição do chamado CDS (Credit Defaut Swap) do Brasil —que mede o nível de risco de crédito de um país— como um dos fatores que sinalizam a retomada. "O risco de crédito está melhorando muito. Estava em 500 pontos no começo de 2016 e agora está ao redor de 215", disse.

INFLAÇÃO E JUROS

Em conversa com jornalistas após o discurso, o ministro afirmou que a inflação está reagindo ao ajuste fiscal. "Em situação de incertezas, os formadores tendem a se defender com aumento de preços. No momento em que se tem um ajuste fiscal, os formadores de preços tendem a aumentar menos os preços e, como consequência, a inflação cai, refletindo a situação do país", afirmou.

Perguntado sobre o ritmo de queda da taxa básica de juros (Selic), Meirelles evitou comentar sobre o tamanho do corte nas próximas reuniões do Copom (Comitê de Política Monetária). "Isso é um trabalho que deve ser deixado para o Banco Central", disse.

DESEMPREGO

A expectativa, afirmou ele, é que o desemprego comece a cair a partir do segundo semestre. "O desemprego ou o emprego reagem com certa defasagem em relação à atividade econômica. Primeiro, a economia precisa voltar a crescer, depois as empresas voltarem a usar sua capacidade ociosa e começarem a contratar", disse.

Na avaliação do ministro, a "boa notícia" é que o crescimento está se disseminando entre vários setores. "Esperamos iniciar 2018 com um ritmo de crescimento de cerca de 3% ao ano", estimou.

PLANEJAMENTO

Em discurso no mesmo evento, o ministro do Planejamento, Dyogo Oliveira, afirmou que o governo não teme ter o texto da reforma modificado no plenário da Câmara ou do Senado.

"A reforma que está aí é uma reforma equilibrada. De um lado contempla essas questões de apelo social e político. De outro lado, gera impacto fiscal suficiente para nós termos uma melhora significativa das condições econômicas do país."


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