Folha de S. Paulo


Colapso da Oi provocaria apagão na telefonia, diz presidente da TIM

Ricardo Borges/Folhapress
Retrato de Stefano de Angelis, presidente da TIM Brasil
Retrato de Stefano de Angelis, presidente da TIM Brasil

O italiano Stefano De Angelis pode reclamar de qualquer coisa, menos de marasmo. Em maio de 2016, em pleno crise econômica e com a política do país em tumulto, foi enviado para assumir o comando da TIM Brasil, operadora com imagem baleada e que havia dois anos encolhia.

Falava-se que chegaria ao país para vender a companhia. No fim do ano passado, moveu-se para comprar a Oi. Mas, por ora, nada disso irá acontecer, afirmou De Angelis à Folha, em sua primeira entrevista desde que se tornou presidente da empresa.

Ele diz que a Telecom Itália, dona da TIM, não tem planos de deixar o Brasil ("absolutamente não") e desistiu da Oi ("neste momento não").

Segundo ele, a situação na Oi é delicada e não há plano de contingência que preserve o sistema de telefonia celular do Brasil caso haja um colapso na operação da rival, que está em recuperação judicial e corre o risco de sofrer intervenção do governo.

"Um apagão de uma grande operadora cria tal nível de congestionamento de tráfego, que há efeito dominó".

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Folha - Qual missão a Telecom Itália lhe deu no Brasil?
Stefano De Angelis - Não foi obviamente para vender [a TIM]. Meu papel é fazer a reestruturação. Fui escolhido porque já havia trabalhado aqui, falava português. Vamos falar a verdade: a situação no ano passado estava crítica não só no país, mas para a empresa. Meu objetivo era, após um ano, poder falar o que digo agora: revertemos a situação.

No ano passado, ainda houve queda de faturamento e lucro.
É preciso olhar a trajetória da companhia. Os investidores gostaram da consistência nos investimentos, nas ofertas [para os consumidores], e, como consequência, nos resultados. Em 2017, esperamos estar sempre no positivo.

A Telecom Italia então fica no Brasil? Não há planos de sair?
Absolutamente não. Pelo contrário. Nos momentos de dificuldade, obviamente esses rumores aumentam. Estamos construindo uma história de empresa que vai consolidar esse mercado. Pode ser fazendo fusão ou aquisição, pode ser tendo êxito na trajetória.

A TIM não comprará a Oi?
Neste momento não. Num mercado com cinco operadoras sempre se está interessado em olhar possíveis associações. É verdade que, no passado, a Telecom Itália e a TIM Brasil estudaram [a compra]. Isso é um fato. Mas hoje, como está a situação da Oi, honestamente [não dá]. A situação da Oi é complicada. Temos de trabalhar ainda muito na reestruturação da TIM. Não quero qualquer distração.

Abrirão, assim, espaço para um novo concorrente.
Hoje, as operadoras estão mais preocupadas com a própria base de cliente do que com novos. Um novo ator não tem base e tem de ganhar dos outros. Mas a Oi, qualquer que seja o acionista, não será um novo ator. Vai ter de continuar com essa atitude. E o foco tem de ser de investimentos. O principal erro que a Oi pode cometer é pensar que precisa ganhar participação de mercado e baixar preços. Isso vai aumentar o volume de clientes, mas sem infraestrutura para atender. Isso infelizmente foi parte da má experiência da TIM. Teve êxito enorme com o Infinity [oferta do pré-pago] e a rede não suportou.

A TIM é a operadora mais dependente da estrutura da Oi. Se houver colapso na operação da empresa, o que farão?
Sendo uma empresa que nasceu móvel, ainda temos dependência dos circuitos alugados da Oi. O que explicamos [ao governo] é que o colapso de uma grande operadora, seja Oi, Vivo, Claro... é um colapso da indústria.

Seria um apagão nacional?
Sem entrar no técnico, um apagão de uma grande operadora cria tal nível de congestionamento de tráfego, só dos clientes que estão tentando acessar a base do apagado, que se cria um efeito dominó, para o sistema como um todo. Não estou falando de uma antena cuja bateria acabou, mas de uma operadora com 40 milhões de clientes.

A TIM já sentiu efeitos de recuperação na economia?
A situação não está mais piorando. Se eu estou vendo impacto no negócio? Não. Vejo otimismo, que está criando as condições melhores.

RAIO-X

Stefano De Angelis

Naturalidade: italiano
Cargo: preside a TIM Brasil
Formação: economista pela Universidade de Roma "La Sapienza" com MBA pela Universidade de Torino
Trajetória: diretor na Telecom Italia e na TIM Brasil e presidente da Telecom Argentina


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