Folha de S. Paulo


Revisar o plano de negócios é mais importante do que fazê-lo

Avener Prado/Folhapress
Vanessa e Anderson Romão, com food truck aberto após falência do primeiro negócio
Vanessa e Anderson Romão, com food truck aberto após falência do primeiro negócio

A receita parecia simples: ter um plano de negócio, conhecer o mercado -o que inclui clientes, fornecedores e concorrentes- e prever capital de giro. Não tinha como dar errado, mas deu: nenhum planejamento é capaz de blindar 100% do risco.

Foi o que aconteceu com a instrumentadora cirúrgica Vanessa Figueiredo Romão, 37. Em 2007, ela abriu uma confecção de produtos hospitalares e odontológicos. "Cheguei a dar entrevista como negócio de sucesso", diz.

Durante um ano e meio, a empresa prosperou. Começou a conquistar o mercado, e a instrumentadora resolveu modificar o plano de negócios. Mudou a fábrica de lugar: passou de um galpão alugado por R$ 800 para outro, de R$ 2.500.

O número de funcionários subiu de 6 para 12, e foi preciso fazer empréstimo para atender um novo cliente. Em seis meses, faliu. Acabou com dívidas trabalhistas e sendo despejada do imóvel.

"Dei um passo maior do que poderia", diz Vanessa. Hoje, ela tem um food truck com o marido, que atende só feiras em condomínios de Guarulhos (SP).

REAÇÃO

De acordo com Batista Salgado Gigliotti, professor da Business School São Paulo, muitos empreendedores fracassam após um excelente começo por não saber administrar os riscos. "O importante não é ter um plano de negócio, mas, sim, reavaliá-lo a cada momento, o que permite traçar a reação."

No primeiro ano, o plano de negócio deve ser revisado a cada três meses ou sempre que o empreendedor tiver dúvidas sobre seu rumo, diz o especialista.

No segundo ano, a recomendação é reavaliar o planejamento a cada semestre. A partir do terceiro, o procedimento pode ser anual.

De acordo com o relatório "Causa Mortis: Sucesso e Fracasso das Empresas nos 5 Primeiros anos de Vida", do Sebrae-SP, empreendedores que fizeram a revisão e a atualização do plano estratégico com frequência tiveram mais sucesso.

Entre as que seguem em atividade, 50% afirmaram fazer a revisão -índice que cai para 43% entre as que encerraram os trabalhos.

Segundo o estudo, os negócios que fecharam também foram menos atentos em acompanhar rigorosamente receitas e despesas e em observar as atividades dos concorrentes.

A crise econômica é outro fator que pode selar o destino mesmo dos negócios bem estruturados. É o caso da administradora Vanessa Himalaia, que montou em 2012 sua primeira loja de cosméticos, em Guarulhos.

Em 2014, o local que começou com 700 itens passou a oferecer 10 mil, e ela decidiu abrir outra unidade.

Veio a crise e, em dezembro de 2015, a empresária viu o faturamento cair 70%. Fechou a segunda loja no fim de 2016 e recorreu ao banco, mas seu primeiro comércio também faliu. "Se continuasse, teria mais dívidas."
Para o professor André Nardy, da Saint Paul Escola de Negócios, é importante saber a hora de crescer. "Otimismo em excesso pode prejudicar os planos."

Investir em franquia também não afasta os riscos. Núbia Viana, 30, aprendeu isso ao adquirir, em 2010, uma loja de perfumes. "As vendas não pagavam as contas. Fechei em dois anos, com dívida de R$ 200 mil", diz.
Para quem faliu e quer voltar a empreender, Nardy sugere autocrítica. "Histórias de fracasso são importantes para aprender."

Risco de quebra


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