Folha de S. Paulo


Ex-presidente da Microsoft cria ferramenta de checagem de dados

Robert Galbraith/Reuters
Ex-executivo da Microsoft Steve Ballmer
Ex-executivo da Microsoft Steve Ballmer

Na era contrafactual das notícias falsas, a reputação das estatísticas oficiais jamais foi pior.

Nesta terça-feira (19), Steve Ballmer, ex-presidente executivo da Microsoft, lançou uma iniciativa que poderia ajudar a restaurá-la, com o objetivo de levar ao confuso mundo dos dados governamentais o mesmo rigor que as empresas adotam para publicar seus dados financeiros.

A iniciativa, USAFacts, tem por objetivo facilitar o acesso a dados recolhidos pelos ramos federal, estadual e municipal de governo, bem como pelos distritos escolares e pelas organizações setoriais de combate a incêndios.

Ballmer disse que o portal on-line permitiria que os contribuintes se informassem sobre cada centavo que é arrecadado e gasto pelo governo, e avaliassem o desempenho de legisladores e funcionários públicos.

Além de um site aberto a buscas que extrairá dados de mais de 70 agências oficiais e de 130 bancos de dados governamentais, o USAFacts na terça-feira publicou diversos relatórios, entre os quais um "10-K" de 170 páginas que imita a prestação de contas anuais que empresas precisam fazer à Securities and Exchange Commission (SEC), agência federal que regulamenta os mercados de valores mobiliários dos Estados Unidos.

Ballmer disse esperar que a iniciativa ajudasse "a despolitizar a parcialidade que vemos em nosso debate ".

"Na Microsoft, aprendi que quando as pessoas observam os mesmos dados, elas tendem a chegar às mesmas conclusões", disse Ballmer em entrevista ao "Financial Times". "Sou um cara de números. Eles são melhores que os adjetivos, porque são mais precisos."

O antigo presidente-executivo iniciou o projeto anos atrás, muito antes que "notícias falsas" se tornasse um termo de uso comum.

A ideia para o USAFacts surgiu de uma discussão entre Ballmer e sua mulher quando ele se recusou a ajudar no trabalho filantrópico que ela fazia para crianças carentes. Ballmer descartou a sugestão sem pensar duas vezes, dizendo que já contribuía para esse tipo de empreitada por meio dos pesados impostos que pagava. A mulher dele discordou.

"Eu queria revelar a verdade sobre a que nossos impostos são realmente destinados", ele disse. "Não posso dizer que tenha antevisto o que estava por vir quanto à realidade dos fatos; jamais imaginei que lançaríamos o site em um ambiente como o de hoje'.

E ele tampouco esperava lançá-lo no "dia do imposto", o último dia de prazo para o pagamento de impostos pelos americanos, e em um momento no qual muitas pessoas questionam de que forma seu dinheiro está sendo utilizado.

Ballmer disse que o compromisso do USAFacts era produzir um balanço anual para o governo, em estilo semelhante ao dos relatórios de empresas às autoridades regulatórias.

"Quando eu estava na Microsoft, a primeira coisa que eu fazia ao avaliar um concorrente era olhar o seu 10-K", ele disse. "Esses relatórios são escritos sem hipérbole e sem omissões, porque a SEC exige isso
—você não tem permissão de se retratar positivamente ou de excluir coisas".

Ele disse que havia convidado as quatro grandes empresas de auditoria internacionais a auditar o relatório.

Ainda que Ballmer tenha insistido em que o USAFacts é bipartidário, ele sugeriu que sua atitude pessoal com relação ao governo se abrandou como resultado de seu trabalho no projeto.

"Ainda que haja sempre espaço para melhora e para ganhar eficiência, me senti melhor sobre o uso dos impostos que pago", disse Ballmer.

Entre as grandes surpresas do estudo estava o fato de que quase metade dos funcionários públicos estão empregados na educação, e o segundo grupo em termos de número de funcionários são os empregados de hospitais públicos. "Você precisa olhar com cuidado para encontrar 'burocratas'", ele disse.

Os impostos pagos pelas empresas também contribuíam menos para os cofres públicos do que ele imaginava originalmente.

Lançando a iniciativa em um elegante salão de baile em Manhattan, Ballmer admitiu que o site não se dirigia ao mercado de massa, mas a pessoas que trabalham no governo, jornalistas e ao que ele descreveu como "cidadãos engajados".

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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