Folha de S. Paulo


Receita da Uber atinge US$ 6,5 bi em 2016, mas empresa ainda tem prejuízo

A Uber Technologies gerou US$ 6,5 bilhões em receitas no ano passado e suas reservas brutas duplicaram, para US$ 20 bilhões, informou o aplicativo de serviço de transporte urbano.

A empresa teve, no entanto, prejuízo líquido ajustado de US$ 2,8 bilhões, excluindo a operação na China vendida no ano passado, disse a Uber.

Como empresa privada, agora no valor de US$ 68 bilhões, a Uber não divulga seus resultados financeiros publicamente. Ela apenas confirmou os números em uma declaração por e-mail, após a agência Bloomberg ter divulgado os resultados.

A Uber não forneceu os números do primeiro trimestre, mas uma porta-voz disse que "parecem estar em linha com as expectativas".

Em uma declaração separada por e-mail, Rachel Holt, gerente geral regional da Uber para os Estados Unidos e o Canadá, disse: "Temos a sorte de ter um negócio saudável e crescente, dando-nos espaço para fazer as mudanças que sabemos que são necessárias na gestão e prestação de contas, na nossa cultura e organização, e na nossa relação com os motoristas."

A Uber foi abalado ultimamente por uma série de contratempos, incluindo acusações detalhadas de assédio sexual de uma ex-empregada e um vídeo mostrando que o executivo-chefe, Travis Kalanick, 40, repreendia duramente um motorista do aplicativo.

PROCURA-SE

A empresa está em processo de contratação de um vice-presidente de operações para ajudar Kalanick a gerenciar a empresa, reparar sua imagem manchada e melhorar sua cultura machista.

Na Uber, Kalanick, comanda todas as decisões na empresa, até mesmo a hora exata em que são abertas as torneiras de cerveja na sede da companhia em São Francisco.

O estilo de gestão deve-se a mais do que um mero culto à personalidade.

A governança e estrutura acionária da Uber e os termos amigáveis aos fundadores da empresa dos aportes de capital que atingem os US$ 13 bilhões, dão a Kalanick controle total sobre a companhia, segundo documentos da Uber e um investidor da empresa com conhecimento do assunto.

Conforme a empresa busca um diretor de operações que possa, em teoria, assumir parte da autoridade de Kalanick, isso pode virar um problema.

"Este vice-presidente de operações terá que ter influência em um nível que seja do conselho de administração para haver alguma mudança", afirmou Dave Carvajal, recrutador de executivos especializado em companhias de tecnologia.

O controle quase total de Kalanick é possível, em grande parte, por uma estrutura de ações de dupla classificação que dá a certos acionistas dez votos por ações, de acordo com o certificado de incorporação da companhia, protocolado junto ao Estado de Delaware.

Kalanick, junto com Garrett Camp, co-fundador da empresa, e Ryan Graves, o presidente-executivo antes de Travis, têm quantidade suficiente dessas super ações para manterem o controle da empresa, afirma um investidor da Uber.

A busca por um vice de operações está em curso, mas o diretor de recursos humanos da empresa declarou no mês passado, que Kalanick já se mostra mais colaborativo. E, com duas exceções públicas, os investidores têm ou apoiado Kalanick, ou se mantido em silêncio, com todos os números importantes da empresa crescendo.

Danish Siddiqui - 19.jan.2016/Reuters
FILE PHOTO Uber CEO Travis Kalanick speaks to students during an interaction at the Indian Institute of Technology (IIT) campus in Mumbai, India, January 19, 2016. REUTERS/Danish Siddiqui/File Photo ORG XMIT: DEL08
Travis Kalanick, presidente da Uber, em palestra a estudantes na Índia

Os diretores de operação mais efetivos têm ampla autoridade e acesso direto ao conselho de administração, afirmam especialistas em governança corporativa. No Facebook, por exemplo, a vice-presidente de operações, Sheryl Sandberg, trabalha em parceria com o fundador e presidente-executivo, Mark Zuckerberg, e possui um assento no conselho de administração da rede social.

Uma série de saídas de executivos de alto escalão da Uber, incluindo o presidente Jeff Jones no mês passado e a chefe de comunicações Rachel Whetstone nesta semana, centralizou ainda mais a autoridade em Kalanick e criou dúvidas sobre seus vice-presidentes.

Kalanick é conhecido por obsessão sobre detalhes, como decoração do escritório, e sobre questões mais importantes, como estratégia de preço e relações com motoristas.

Em um momento, Kalanick chegou a ordenar que as torneiras de cerveja do escritório ficassem fechadas em certos horários depois de expressar descontentamento com um funcionário que estava bebendo, disse um ex-funcionário da companhia.

O executivo também cuidou de perto do redesenho do logotipo da Uber no ano passado, apesar de não ser designer, afirmou uma pessoa próxima da companhia. O chefe de design, Andrew Crow, anunciou sua demissão da empresa um dia depois que o novo logotipo foi divulgado.

Esse tipo de controle pode evitar que candidatos qualificados a vice-diretor de operações aceitem ofertas da empresa se tiverem que trabalhar "com um braço amarrado nas costas", disse Robert Siegel, professor da Universidade de Stanford e investidor na XSeed Capital.

Um porta-voz da Uber se recusou fazer comentários sobre o assunto.


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