Folha de S. Paulo


Fundos abutres querem tomar controle da Oi de graça, diz Tanure

Leo Pinheiro - 13.out.2005/Valor Econômico
Rio de Janeiro - 13/10/2005 - Empresas Nelson Tanure, Empresario da Apvar e Presidente do Jornal do Brasil. Assembleia de Credores da Varig. Foto: Leo Pinheiro/Valor Econômico ***FOTO DE USO EXCLUSIVO FOLHAPRESS*** ORG XMIT: AGEN1103030110388982
Empresário Nelson Tanure, que recusa intervenção na Oi

O empresário Nelson Tanure, 65, é o dono da Bridge Participações e do fundo Société Mondiale, ambos acionistas da Oi, que está em recuperação judicial.

O processo está travado por divergências entre acionistas e credores. O governo ameaça editar uma medida para intervir na companhia.

Nesta entrevista, concedida por e-mail, Tanure diz que não há justificativa para isso.

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Folha – Como o senhor recebeu a notícia de que o governo prepara uma medida provisória para intervir na Oi?

Nelson Tanure – Com muita surpresa e preocupação. A Oi atende a todas as metas de qualidade e vem melhorando seus indicadores. As reclamações de clientes diminuíram, as ações judiciais, fruto dessas reclamações, também. O próprio caixa da Oi praticamente dobrou desde que a companhia pediu a recuperação judicial.

Essa história de intervenção, que vem sendo propagada pela mídia, não passa de uma imensa campanha do grupo de fundos abutres, que são 'bondholders' [donos de títulos emitidos pela empresa no exterior] e concorrentes da Oi para desinformar o mercado e enfraquecer a companhia. O caso da Oi é a 'Carne Fraca' das telecomunicações.

Por que exatamente?

Esses 'bondholders' tentam propagar informações falsas para tentar enganar o governo e fazer a população acreditar que a Oi não tem recuperação, que não conseguirá honrar com seus compromissos de pagamento. Com essa atitude, eles querem tomar o controle da companhia de graça para depois fatiá-la e revendê-la. Quem quer recuperar a Oi investe nela e compra ações, e não fica dizendo por aí que vai investir.

A Oi foi muito prejudicada por interferências no passado. O que ela precisa agora é de apoio, tanto dos órgãos públicos quanto da sociedade, seus acionistas, credores e empregados, para continuar sendo uma das maiores empresas do país e um orgulho nacional.

É verdade que o senhor e outros acionistas aliados já têm mais de um terço das ações da empresa?

Investi na companhia por acreditar nela, por acreditar na sua recuperação e, por isso, estou disposto a investir mais, inclusive aportando recursos.

Sei que fundos internacionais estão investindo também por acreditar no grande potencial da companhia e que estão dispostos a investirem cerca de US$ 2 bilhões, inclusive capitalizando a companhia.

O banqueiro Daniel Dantas está com o senhor nesse negócio?

Esse é apenas mais um rumor tendencioso e falso.

Caso o senhor assuma o controle da empresa (via maioria de assentos no conselho), de onde viriam os recursos para os investimentos necessários?

Individualmente, estou disposto a capitalizar a companhia e tenho conhecimento de que outros acionistas têm a mesma disposição.

Banco do Brasil, Caixa e BNDES, que são credores da Oi, acham que não dá para salvar a empresa sem entregar mais do que 60% da companhia para os credores. Isso levaria os atuais acionistas a serem diluídos a ponto de saírem do comando da Oi. É por isso que vocês não fecham o acordo?

Não somos contra a diluição. O plano da Oi, que prevê a entrega de até 38% das ações para credores, tem o meu apoio. E, sinceramente, acho que será aprovada pela Assembleia Geral de Credores.

Mas na última reunião o plano aprovado pelos conselheiros previu 25%. Os bancos públicos disseram que havia um acordo fechado pela aprovação de algo entre 32% a 60% de conversão, o que permitiria fechar um acordo. Os acionistas romperam esse acordo?

O aditamento ao plano foi aprovado por unanimidade pela administração da Oi composta por profissionais de mercado experientes e equilibrados, salvo um único item que ainda não foi aprovado por maioria, a proposta de conversão da dívida em participação. A Oi já está muito próxima de ter a quantidade de votos necessária para aprovar o plano em assembleia geral.

Quem está insatisfeito, então?

Alguns 'bondholders' representados por escritórios especializados, fundos abutres que compraram títulos a centavos de dólares e agora pressionam a companhia e tentam induzir o governo a erro para receberem valores muito acima do que pagaram.

Esses fundos são abutres travestidos de credores que pediram a falência das subsidiárias da Oi na Holanda, em uma flagrante demonstração de ausência total de compromisso com a recuperação da companhia.


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