Folha de S. Paulo


Em 3 meses, carteira de obras da construtora Odebrecht encolhe 20%

Jaime Saldarriaga/Reuters
View of machinery on one side of the Ruta Del Sol II road, under construction by Odebrecht in Sabana de Torres, Colombia February 28, 2017. Picture Taken February 28, 2017. REUTERS/Jaime Saldarriaga ORG XMIT: GGGJS08
Obra da Odebrecht na Colômbia

Mergulhada na maior crise da sua história, a Odebrecht perdeu nos últimos meses parte significativa dos contratos de sua segunda maior empresa, a construtora que deu origem ao grupo.

Esses contratos tinham sido fechados antes dos acordos feitos pelo grupo para colaborar com investigações sobre corrupção no Brasil, nos Estados Unidos e na Suíça.

A empreiteira perdeu US$ 4,3 bilhões em contratos somente nos três últimos meses de 2016 (cerca de R$ 13 bilhões), segundo números informados à Folha pela própria empresa. O valor corresponde a 20% do estoque que a empreiteira tinha em setembro de 2016, quando divulgou o seu balanço mais recente.

Que fase - O que aconteceu com a carteira de obras da Odebrecht desde o ano passado. Em R$ bilhões

Nessa conta estão obras canceladas por clientes e outras concluídas pela empreiteira no período. Desde outubro do ano passado, a empresa não fechou novos contratos para compensar as perdas.

Os dados são alarmantes para o grupo. Em 2014, antes de ser atingida pela Operação Lava Jato, a construtora fechou o ano com US$ 33,9 bilhões em contratos. No fim de 2016, tinha apenas US$ 17 bilhões em carteira. É o menor valor registrado desde 2008.

O valor da carteira, ou "backlog" no jargão do setor, é um indicador fundamental da saúde financeira de uma construtora no longo prazo. Indica o quanto ela irá faturar e também mostra a capacidade da empresa de conquistar e reter seus clientes.

O encolhimento da construtora é maior que o previsto. Em relatório de 22 de fevereiro, a agência de classificação de risco Fitch observou que a carteira de projetos da Odebrecht poderia chegar, no fim de 2017, "a um valor tão baixo quanto US$ 18 bilhões". Esse patamar já foi alcançado em 2016.

As agências de risco e os bancos acompanham com atenção esses números. O grupo Odebrecht tem empréstimos cujas garantias estão atreladas à empreiteira. Quanto mais ela perder em contratos, maior, em tese, o risco para quem deu crédito.

Outros US$ 2,6 bilhões em obras já estão sob risco. Esse é o valor dos contratos da empreiteira em concessões que tiveram de ser devolvidas pelo grupo Odebrecht. Os novos concessionários que assumirem os projetos podem optar por substituir a construtora.

O cancelamento mais prejudicial foi o da concessão de um gasoduto no Peru, que representava US$ 2 bilhões em obras para a construtora. Há pedidos de devolução na Colômbia e no Panamá também.

Os problemas da Odebrecht se agravaram em dezembro de 2016, quando o Departamento de Justiça dos EUA divulgou detalhes sobre revelações feitas pelos executivos do grupo às autoridades.

A empresa confessou ter pago quase US$ 400 milhões em propina para obter contratos em nove países da América Latina, o que levou os governos desses países a abrir investigações sobre a empresa e cancelar seus contratos.

Assim, bancos seguiram relutando em dar crédito à empresa, incertos sobre seu futuro, e investidores interessados em seus ativos ficaram ressabiados. Dos R$ 12 bilhões que o grupo espera vender em ativos, só R$ 5 bilhões foram negociados até agora.

No Brasil, pagamentos devidos à construtora por obras feitas no exterior seguem bloqueados pelo BNDES. A direção do banco estatal indicou que começará a liberar os recursos em breve, mas o dinheiro ainda não apareceu.

A Odebrecht corre para firmar novos acordos na tentativa de impedir o cancelamento de mais obras e voltar a disputar contratos. Já há acordos preliminares com Peru, Colômbia e Panamá. Na República Dominicana, um acordo foi fechado, restando a homologação pela Justiça.

Em nota, a Odebrecht afirmou que adotará as medidas necessárias para aprimorar seu compromisso com práticas empresariais éticas e de promoção da transparência em todas as suas ações.

Colaborou Raquel Landim.


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