Folha de S. Paulo


PF analisou carne de apenas uma empresa em 2 anos de investigação

vídeo operação Carne Fraca

Em dois anos de apuração para a Operação Carne Fraca, a Polícia Federal fez perícia em alimentos produzidos por frigoríficos em apenas um caso. A análise foi feita em produtos da Peccin Agro Industrial, empresa curitibana responsável por alimentos da marca Italli.

Segundo a PF, foi constatado o uso de carnes estragadas na composição de salsichas e linguiças, "maquiagem" de carnes estragadas, falta de rotulagem e refrigeração.

A Peccin nega as irregularidades. O ministro Blairo Maggi (Agricultura) questionou neste domingo (19) a parte técnica da investigação, afirmando que práticas consideradas irregulares são, na verdade, permitidas por lei.

OPERAÇÃO CARNE FRACA
PF deflagra ação em grandes frigoríficos

Na parte pública do relatório da polícia, de mais de 300 páginas, há descrição de indícios de corrupção entre empresas e servidores do Mapa (Ministério da Agricultura) e de irregularidades cometidas pelos frigoríficos na produção de alimentos, apuradas a partir da análise de grampos e depoimentos.

Uma das práticas constatadas pela PF é a concessão desenfreada de certificados que exigiam, na verdade, fiscalização. Por dinheiro, lotes de carne e asinhas de frango ou outros presentes, servidores assinavam documentos sem checar se as regras estavam sendo cumpridas.

O relato de um fiscal afastado após tentar cumprir seu trabalho desencadeou a abertura do inquérito. A PF ouviu funcionários de empresas que corroboraram com a versão do denunciante e quebrou sigilos telefônicos e bancários de investigados.

Nem todas as 32 empresas alvo da Carne Fraca são suspeitas de vender alimentos impróprios para o consumo.

A JBS, maior empresa do setor, está implicada diante da atuação de funcionários da Seara e da Big Frango.

Segundo a PF, o funcionário da Seara Flavio Cassou dava dinheiro e alimentos a servidores em troca da emissão de certificados, sem a devida fiscalização, para a venda e exportação de produtos.

Karime Xavier/Folhapress
SÃO PAULO / SÃO PAULO / BRASIL -07 /08/14 -16 :00h - CORTES DE CARNE.Açougue Santa Bárbara. PICANHA. ( Foto: Karime Xavier / Folhapress). COMIDA
Corte de carne

A empresa afirma que ele foi contratado em 2015 e era mantido pela JBS, mas trabalhava cedido ao Mapa.

O ex-presidente da Big Frango, controlada pela JBS, o executivo Roberto Mulbert, aparece perguntando a uma servidora sobre a possibilidade de prorrogar a data de validade de embalagens.

A situação da BRF, segunda maior companhia do setor, é mais delicada. Funcionários são acusados de oferecer vantagens a servidores para afrouxar a fiscalização e de, por meio de suborno, evitar a suspensão de fábrica em Mineiros (GO), onde havia incidência de salmonella.

O gerente de relações institucionais da BRF, Roney Nogueira dos Santos, que foi preso, aparece em escutas feitas da PF. A empresa diz não compactuar com ilícitos.

Também há evidência de que produtos da BRF, que é dona da Sadia e da Perdigão, eram vendidos fora do padrão exigido –como frangos com absorção de água superior ao permitido.

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O que se sabe até agora

Os principais frigoríficos atingidos pela Operação Carne Fraca, e o que a polícia apontou contra eles

BRF

Fundação: Perdigão (1934),,Sadia (1944); a fusão foi em 2009
Sede: Itajaí, SC
Unidades no Brasil: 35
Unidades no exterior: 19
Funcionários: 105 mil
Receita líquida em 2016, em R$ bilhões: 37,7
Exportações: Para cerca de 150 países
A PF aponta indícios de corrupção?: Sim. Há indícios de que executivos da empresa ofereciam vantagens a fiscais e servidores do Mapa (Ministério da Agricultura) para afrouxar a fiscalização
A PF aponta indícios de irregularidades na produção de alimentos?: Sim. Diretor da empresa é suspeito de oferecer suborno a fiscais para evitar suspensão de fábrica em Mineiros (GO), que teve carne barrada na Europa por conter salmonella. Também é suspeita de vender produtos fora dos padrões exigidos, como frango com absorção superior ao permitido
Prisões preventivas: 2
O que a empresa diz: A fábrica de Mineiros tem 3 certificações internacionais. A última auditoria do Mapa (25-28.fev.2017) considerou a planta apta. A unidade foi interditada temporariamente até que a BRF possa prestar informações. O tipo de Salmonella encontrado é o Saint Paul, tolerado pela legislação para carnes "in natura", o que não justificaria a proibição. A BRF não compactua com práticas ilícitas e tomou as medidas necessárias para apuração dos fatos

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JBS

Fundação: 1953
Sede: São Paulo, SP
Unidades no Brasil: 120
Unidades no exterior: 114
Funcionários: 235 mil
Receita líquida em 2016, em R$ bilhões: 170,40
Exportações: Para cerca de 150 países
A PF aponta indícios de corrupção?: Sim. Um funcionário da Seara daria dinheiro e produtos a servidores do Mapa em troca da emissão de certificados, sem a devida fiscalização, para a venda e a exportação de produtos
A PF aponta indícios de irregularidades na produção de alimentos?: Sim. Um executivo da Big Frango, marca da JBS, aparece perguntando a servidora do Mapa se pode prorrogar a data de validade de embalagens que "sobraram"
Prisões preventivas: 1
O que a empresa diz: Não compactua com nenhum desvio de conduta e aguarda informações para tomar todas medidas. O funcionário foi contratado porque a lei exige de empresas que fornecem produtos de origem animal um fiscal sanitário para controlar a inspeção. O regulamento de inspeção, diz, prevê que a empresa faça a contratação, mas o funcionário fica a serviço do governo

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Outros frigoríficos em que há indícios de irregularidades na produção de alimentos, segundo a PF

PECCIN, Curitiba (PR)
Suspeito de subornar fiscais para não sofrer fiscalização e punição. Irregularidades, segundo a PF, incluem uso de carne estragada em salsichas e linguiças, "maquiagem" de carne estragada com ácido ascórbico, carnes sem rotulagem e refrigeração e falsificação de notas de compra de carne. Procurada, a empresa não enviou esclarecimentos

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LARISSA, Mauá (SP)
A PF fala em ausência de qualidade dos alimentos, transporte de produtos fora da temperatura adequada, troca de etiqueta de produtos e colocação no mercado de produtos vencidos. Procurada, a empresa não enviou esclarecimentos

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SOUZA RAMOS, Colombo (PR)
A empresa, que fornece merenda escolar no Estado do Paraná, teria enviado salsichas contendo carne de frango quando os produtos deveriam ser compostos de carne de peru. A empresa Central de Carnes Paranaense, dona da marca, disse que os produtos fornecidos seguem as exigências de qualidade


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