Folha de S. Paulo


Há como expandir sem vulgarizar, diz executivo de relógio de luxo

Marcus Leoni/Folhapress
Freddy Rabbat no escritório da Tag Heuer, em São Paulo
Freddy Rabbat no escritório da Tag Heuer, em São Paulo

Freddy Rabbat entrou no mercado de luxo como importador de canetas e isqueiros em 1989, ano em que a inflação acumulada ultrapassou os 1.700%. Após longa passagem à frente da Mont Blanc, é hoje o presidente da Tag Heuer no Brasil, tradicional marca suíça de relógios.

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Folha - O que faz algo ser parte do mercado de luxo?
Freddy Rabbat - Esse segmento tem a ver com qualificação do que se oferece, é a cereja do bolo que faz todo o resto evoluir. Há algum tempo era possível comprar um macarron de R$ 9 da Ladurée, nada mais do que dois suspiros colados por um docinho, e isso era uma experiência de altíssimo luxo, com uma receita fantástica e uma equipe bem treinada de funcionários.
Muitas vezes a compra de um automóvel de R$ 500 mil não irá proporcionar essa experiência, pela falta de pessoas qualificadas para o atendimento ao cliente.

O que era luxo em 1989?
Hoje você chega ao restaurante e põe um telefone bacana sobre a mesa. Naquela época, colocava-se o maço de cigarros e um isqueiro Dupont. Isso era luxo, um assunto sobre o qual conversar. Comecei importando esses isqueiros e também os da Dunhill. Trazia também canetas dessas empresas, até que a Dunhill comprou a Mont Blanc. Comecei a importar artigos dessa marca também.

Havia muito deslumbre com artigos que vinham de fora.
Entendia-se que tudo o que era importado era bom. A gente deve essa quebra de paradigma à chegada da Lada [fabricante russa de carros]. O público viu que coisa importada pode ser porcaria.

Como sobreviver em um mercado que, por característica, produz bens longevos?
Essa é uma grande dificuldade. Há muita gente a ser alcançada por um momento, mas não se pode ter um negócio sustentável se houver o objetivo de crescer o tempo todo. Buscar isso no segmento de luxo significa destruir o planeta ou se vulgarizar. O mercado tem o seu tamanho.

Mas toda empresa tem o objetivo de continuar a crescer.
Sim, o pequeno sonha em ser médio, o médio quer ser grande. A Tag Heuer, por exemplo, faz relógios esportivos. Se quer crescer, investe em modelos clássicos e em opções totalmente modernas, como os smartwatches [relógios inteligentes, com acesso à internet]. Dessa forma atinge-se o mesmo público de maneiras diferentes.

Há como expandir as atividades sem perder a qualidade ou vulgarizar seu produto. Temos que lembrar que as gerações vão mudando, e suas demandas, também. Minha geração estava em busca da posse, a atual é mais ligada na experiência, que precisa ser durável. Se as marcas não se adaptarem a isso, não irão a lugar nenhum.

A Tag Heuer investe alto no smartwatch, mas empresas de tecnologia parecem insatisfeitas com as vendas desses itens. É uma aposta arriscada?
A questão é o tamanho das coisas. Uma empresa como a Apple, que comercializa 200 milhões de telefones por ano, pode considerar um fiasco vender 7 milhões de smartwatches. Para a Tag, vender essa quantidade significaria se tornar a segunda maior marca de relógios de luxo do mundo.


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