Quando a Uber estava levantando capital de risco em 2013, a empresa era uma das mais atraentes, e ninguém estava mais disposto a preencher um cheque do que Bill Maris e David Krane, do braço de investimentos do Google.
Porém, nem todo mundo no Google Ventures, atualmente conhecido como GV, concordava. A companhia já tinha investido em uma rival, a Sidecar, e o Uber estava querendo um valor muito elevado na época.
Maris e Krane acabaram prevalecendo e o investimento é hoje considerado um dos maiores sucessos do GV. No papel, o investimento inicial de US$ 258 milhões em 2013 se multiplicou por 14 vezes nos três anos seguintes, para mais de US$ 3,5 bilhões.
Mas agora a Alphabet, controladora do Google, está processando a Uber por roubo de segredos corporativos.
A gigante da tecnologia alega que um de seus principais engenheiros no programa de carro autônomo acessou milhares de arquivos confidenciais, incluindo projetos que o ajudaram a fundar a companhia de caminhões autônomos Otto e a vender a empresa rapidamente para a Uber —que nega as acusações.
O processo, aberto pela unidade de carros autônomos Waymo, da Alphabet, está agitando a crescente indústria considerada como o futuro do transporte rodoviário privado.
A relação complexa entre as duas empresas foi tensa desde o início, segundo pessoas com conhecimento do assunto, e azedaram de vez com o aumento da competitividade entre as duas.
Agora, se o processo da Waymo atingir o Uber, o investimento do GV na companhia pode ser afetado por uma raridade no Vale do Silício: um grande investimento minado pelos próprios investidores da companhia.
"Se a Waymo ganhar, o GV perde", disse Stephen Diamond, professor associado de direito na Santa Clara University.
O processo é apenas um de uma série de reveses sofridos pela Uber, incluindo alegações de assédio sexual que dispararam uma investigação interna, um vídeo do presidente-executivo, Travis Kalanick, discutindo com um motorista da própria Uber que o fizeram fazer um pedido público de desculpas, e admissão pela empresa na sexta-feira de que usou uma ferramenta secreta de rastreamento para evitar autoridades.
"Avaliamos as alegações da Waymo e determinamos que elas são uma tentativa sem fundamento de desacelerar um competidor e vamos nos defender vigorosamente contra eles no tribunal", disse a Uber em comunicado. Uma porta-voz da GV não comentou o assunto.