Folha de S. Paulo


Para crescer, sorveterias viram franquias

Eduardo Anizelli/Folhapress
Rafael Pereira, em sua franquia da Ice Creamy no Campo Belo (zona sul de SP)
Rafael Pereira, em sua franquia da Ice Creamy no Campo Belo (zona sul de SP)

O brasileiro tomou menos sorvete em 2016 do que nos anos anteriores. Para enfrentar a baixa, algumas marcas adotaram o modelo de franquia, que até pouco tempo atrás era incomum no setor.

Esse movimento ajudou as empresas a crescerem apesar dos problemas.

"As franquias são especialidades que vêm crescendo a todo vapor e já são classificadas como uma nova tendência", diz Eduardo Weisberg, presidente da Abis (Associação Brasileira das Indústrias e do Setor de Sorvetes).

Segundo ele, o fortalecimento das marcas pode ajudar na recuperação do setor como um todo.

Depois de aumentar 67% entre 2003 e 2015, o consumo registrou queda no ano passado, de acordo com dados preliminares da Abis.

Um dos exemplos que ilustram esse cenário é a Ice Creamy Sorvetes. A empresa abriu em 2014 sua primeira loja em Catanduva (385 km de São Paulo) e hoje tem 70 pontos em 18 Estados.

"Desde o início pensava em transformar em franquia. A primeira loja já tinha layout, design, tudo padronizado para isso", diz Émmerson Serandin, fundador e presidente da marca.

Segundo Serandin, o modelo não é garantia de sucesso. "A franquia tem uma fórmula que funciona, é igual a uma receita de médico. Se você não tomar os remédios direito, não vai dar certo."

O paulistano Rafael Pereira, 20, diz concordar. Ele abriu em dezembro, com o pai, uma loja da marca no Campo Belo, zona sul de SP.

"Antes de abrir a unidade, conversamos muito com a franqueadora, para ter certeza de que nossos valores batiam com os da marca", diz.

"Sorvete é uma categoria que está se consolidando, o consumo per capita subiu nos últimos dez anos. Quando um mercado amadurece, é natural que a franquia se faça presente", afirma o empresário Lupercio Moraes.

Ex-executivo na área de consumo, ele comprou em 2014 a Rochinha, tradicional marca de sorvetes do litoral norte de São Paulo. Depois de um tempo de adaptação, a empresa adotou o modelo de franquia no ano passado.

Marcus Leoni/Folhapress
O designer Rafael Cipolla, 29, sócio e fundador da empresa Naked Sorvetes, em São Paulo
O designer Rafael Cipolla, 29, sócio e fundador da empresa Naked Sorvetes, em São Paulo

"Quando começamos a planejar, não tinha crise. Então tivemos que adaptar nosso modelo e criar uma alternativa", afirma ele.

A solução foi investir em uma opção de quiosque, mais barata -o investimento necessário é de R$ 50 mil, com retorno em 18 meses. Já a loja requer R$ 200 mil e retorno entre dois e três anos.

"Essa versão menor acabou sendo o nosso maior sucesso", afirma Moraes.

Não basta adotar o modelo de franquias para fazer sucesso, alerta Hebert Rodrigues, consultor do Sebrae-SP. É preciso ter um produto que se diferencie do resto, em especial das grandes marcas que dominam o setor.
A Rochinha, por exemplo, aposta em sabores naturais, enquanto a Ice Creamy usa a técnica de pedra congelada, pela qual o sorvete é finalizado na frente dos clientes.

"É um setor com muito potencial, mas que requer inovação e criatividade", diz Rodrigues. Sorvetes gourmet e naturais estão entre as tendências desse mercado, diz.

Foi esse caminho que levou o designer Rafael Cipolla, 29, a deixar o mercado de publicidade para criar em 2014, ao lado de sócios, a Naked Sorvetes, especializada em sabores saudáveis, com frutas e água de coco.

"Sempre teve essa história de sorvete de frutas saudável, mas ninguém fazia com muita profundidade, então vi a oportunidade", diz ele. Atualmente a empresa produz até 30 mil picolés por mês.

DICAS PARA QUEM QUER ENTRAR NO SETOR

Pesquise
Analise o mercado para encontrar um nicho. Além de sabores saudáveis e gourmet, outra tendência é a de produtos segmentados, como os sorvetes para diabéticos ou para pessoas intolerantes a lactose

Escolha
Defina se vai vender picolé ou sorvete de massa e se vai apenas produzir ou também cuidará da venda ao público. Com isso em mãos, será possível traçar um plano de negócios

Diversifique
Como o segmento é sazonal, com venda alta no verão e queda brusca no inverno, vale investir em produtos que possam ser consumidos em diferentes épocas do ano, como cafés e açaí

Fonte: Hebert Rodrigues, do Sebrae-SP


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