Folha de S. Paulo


Brasileiros donos da Kraft Heinz oferecem R$ 431 bi pela Unilever

A Kraft Heinz, conglomerado de alimentação controlado pelo grupo brasileiro 3G e pelo investidor norte-americano Warren Buffett, confirmou na sexta-feira (17) ter abordado a Unilever, companhia anglo-holandesa de bens de consumo, com uma proposta de tomada de controle acionário.

A Unilever rejeitou a proposta e afirmou que o valor, de 112 bilhões de libras (R$ 431,2 bilhões), foi considerado baixo. "Fundamentalmente, isso subestima a Unilever", anunciou a empresa. "A Unilever não viu nenhum mérito, financeiro ou estratégico, para seus acionistas."

A Kraft Heinz é comandada pelo brasileiro Bernardo Hees, que antes foi presidente-executivo do Burger King, outro grande investimento do 3G Capital.

O 3G é o segundo maior acionista da Kraft Heinz, com 23,9% de participação, só atrás dos 26,8% da Berkshire Hathaway, holding de Buffett.

O grupo tem sede nos EUA, mas é liderada pelos brasileiros Jorge Paulo Lemann, Carlos Alberto Sicupira, Marcel Telles, Alex Behring e Roberto Thompson Motta.

Lemann, Sicupira e Telles, figuras constantes em lista de pessoas mais ricas do mundo, também estão na liderança da AB InBev, a maior cervejaria do mundo.

Caso fosse concretizada, seria a terceira maior fusão da história, de acordo com o Instituto de Fusões, Aquisições e Alianças (Imaa, em inglês). O negócio seria superado apenas pela compra da Mannesmann AG pela Vodafone, em 1999 (US$ 202 bilhões), e pela compra da Time Warner pela America Online, em 2000 (US$ 165 bilhões).

Fusão de empresas - Proposta da Kraft-Heinz pela Unilever criaria 2ª maior empresa global de alimentos

A Kraft Heinz afirmou ter apresentado uma "abordagem abrangente" à Unilever sobre a combinação dos dois grupos para criar uma companhia líder mundial nos bens de consumo, com o crescimento em longo prazo e vida sustentável como missões de longo prazo.

A empresa acrescentou que "embora a Unilever tenha recusado a proposta, buscamos trabalhar para chegar a um acordo sobre os termos de uma transação. Não há certeza quanto a novas ofertas formais a serem apresentadas ao conselho da Unilever, ou quanto à realização mesma de uma oferta, ou quanto aos termos de qualquer possível transação".

A declaração surgiu depois que o FT Alphaville divulgou na manhã da sexta-feira (17) que a Kraft Heinz havia procurado a Unilever, de acordo com pessoas informadas sobre o assunto. A notícia causou alta nas ações da Unilever, e levou a companhia norte-americana a divulgar um comunicado.

As ações da Unilever subiram em 11%, para 37,22 libras (R$ 143,30) por ação, e a capitalização de mercado da empresa é de 112 bilhões de libras, o que significa que a possível tomada de controle acionário seria uma das maiores da história. A Unilever é quarta maior fabricante mundial de bens de consumo, pelo critério de vendas, e sua receita no ano passado foi de 57,2 bilhões de libras (R$ 220,2 bilhões).

Uma transação uniria algumas das maiores marcas de bens de consumo do planeta, adicionando linhas como as da Dove e Knorr à carteira da Kraft Heinz, que já responde pelo cream cheese Philadelphia, pelos ketchups Heinz e pela marca Vigilantes do Peso.

As ações da Kraft Heinz caíram em quase 5%, para US$ 86,86 (R$ 269) na quinta-feira, com a notícia de que o faturamento da empresa no quarto trimestre havia caído em 3,7% ante o período em 2015, para US$ 6,85 bilhões (R$ 21,2 bilhões).

Como muitos outros fabricantes de bens de consumo, a Unilever vem sofrendo uma desaceleração de crescimento, porque os consumidores dos mercados desenvolvidos, cada vez menos leais a marcas, vem optando por produtos de empresas iniciantes em busca de novidades que os entusiasmem.

Os mercados emergentes representam 58% das vendas da Unilever, uma proporção maior do que é o caso em companhias rivais, e ela depende muito desses mercados para o seu crescimento.

Maiores fusões e aquisições globais - Em US$ bi

Maiores empresas de alimentos e bebidas por faturamento - Em 2016, em US$ bi

A Unilever vem criando marcas premium e explorando novas formas de marketing. No ano passado, ela adquiriu a Dollar Shave Club por US$ 1 bilhão (R$ 3,1 bilhões), não só para elevar sua participação no mercado de produtos de higiene masculinos como para desenvolver o modelo de assinatura por e-mail no qual os negócios da companhia californiana adquirida são baseados.

A Kraft Heinz surgiu depois de uma transação de US$ 100 bilhões (R$ 310 bilhões) orquestrada por Buffett e pelo grupo brasileiro 3G, em 2015, e seu foco vem sendo reduzir custos agressivamente nas companhias adquiridas, com o objetivo de economizar US$ 1,8 bilhão (R$ 5,6 bilhões) por ano até 2018.

Analistas vinham prevendo consolidação adicional no setor, e especulando que a 3G podia atacar de novo, depois de sua mais recente grande transação. Alguns deles viam a Mondelez International como provável alvo.

A agência de classificação de crédito Moody's recentemente previu que os fabricantes mundiais de bens de consumo doméstico obteriam apenas 2,5% de crescimento de receita este ano —o que fica perto da metade da média quinquenal de 4,8% de crescimento anual registrada pelo setor.

Mas a Moody's disse antecipar que a Unilever e a rival Reckitt Benckiser —que na semana passada fechou acordo para adquirir a Mead Johnson, produtora norte-americana de leite em pó, por US$ 17,9 bilhões (R$ 55,5 bilhões)— viessem a superar a média do setor em 2017.

Em janeiro, Paul Polman, presidente-executivo da Unilever, alertou sobre condições "desafiadoras" no primeiro semestre do ano, depois de um 2016 lento, o que abalou os investidores na fabricante do sabonete Dove e das maioneses Helmman's, gerando uma queda de 5% nas ações da empresa.

A Unilever registrou alta de 3% em seu lucro anterior aos impostos, em 2016 ante o ano precedente, com ajuda de medidas de corte de custos e de uma campanha pela eficiência que elevaram a margem básica de lucro da empresa em 0,5%, para 15,3%, e lhe propiciaram lucro de 7,5 bilhões de euros (R$ 24,7 bilhões).

Polman acautelou, naquele momento, que "as condições difíceis do mercado" só melhorariam no segundo semestre. "Antecipamos um começo lento, com o crescimento melhorando à medida que o ano avança".

A causa imediata de fraqueza no trimestre final do ano passado era o desempenho na Índia e Brasil, respectivamente o segundo e terceiro maiores mercados da Unilever, que respondem por 14% de sua receita.


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