Folha de S. Paulo


Trump age para liberar bancos de restrição adotada após crise global

Brendan Smialowski/AFP
US President Donald Trump shows an executive order directing the Treasury Secretary to review the Dodd-Frank financial oversight law in the Oval Office of the White House on February 3, 2017 in Washington, DC. / AFP PHOTO / Brendan Smialowski
Donald Trump mostra ordem executiva que determina revisão de lei do sistema financeiro

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, deu início ao desmonte das restrições aplicadas a Wall Street depois da crise financeira de 2008, o que pode significar um enorme alívio para as instituições que foram apontadas como as grandes responsáveis pelo colapso global.

Ele ordenou a revisão de uma histórica lei de reforma do sistema financeiro, o que, se confirmado pelo Congresso, diminuirá o controle das autoridades regulatórias sobre bancos e corretoras.

A iniciativa de Trump para derrubar parte da Lei Dodd-Frank, que inclui proibições a que instituições financeiras operem com títulos em benefício próprio, prenuncia a maior reacomodação regulatória do setor em seis anos.

"Nossa expectativa é eliminar boa parte da Dodd-Frank, porque, francamente, conheço muita gente, muitos amigos, que têm empresas boas e não conseguem tomar dinheiro emprestado", disse Trump, acompanhado de alguns dos principais executivos de Wall Street, como James Dimon, presidente do JPMorgan, maior banco dos EUA.

Especialistas não têm dúvidas de que a lei adotada em 2010, no governo Barack Obama, tornou mais caro o custo para as instituições.

A contrapartida oferecida, porém, era a promessa de que os consumidores teriam um sistema mais seguro e que não teriam de arcar com um resgaste aos bancos como o de 2008, quando houve injeção de centenas de bilhões para evitar uma quebradeira geral.

Trump, que atacou duramente Wall Street na campanha eleitoral, defendeu a mudança na lei, dizendo que ela permitirá que os bancos emprestem mais para empresas, possibilitando, por sua vez, a contratação de trabalhadores.

Essas ações mostram que o republicano, depois de uma campanha com tom populista, busca agora atender os interesses de Wall Street e de outras grandes empresas.

Trump também ordenou a revisão de uma regra adotada sob Obama que força os consultores de investimento a agir sempre no melhor interesse de seus clientes.

O presidente tem capacidade limitada para promover o desmonte da Lei Dodd-Frank. Só o Congresso pode mudá-la substancialmente, e, ainda que as autoridades regulatórias tenham alguma flexibilidade quanto à forma de aplicação dos dispositivos, eles precisam passar por um complicado processo burocrático para mudar suas regras.

Com o anúncio, as ações dos grandes bancos dos EUA dispararam nesta sexta (3).

RIOS DE DINHEIRO

Os grandes bancos americanos ecoaram a mensagem da Casa Branca de que as reformas mais amplas que estão começando tinham por objetivo encorajar o fluxo de crédito, e não estimular as atividades de alto risco dos bancos de investimento.

"Meus membros estão gastando rios de dinheiro, energia e tempo para cumprir regras, em certos casos regras desnecessárias, que afetam os empréstimos", disse Richard Hunt, presidente da Associação de Bancos de Varejo dos Estados Unidos.

"Todos acreditamos em regulamentação e, especialmente, em regulamentação de proteção ao consumidor", afirmou o executivo.

"Mas será que o Congresso foi longe demais com a Dodd-Frank? Com certeza foi."

Para desmantelar a Dodd-Frank, porém, os legisladores republicanos precisam do apoio de pelo menos oito democratas no Senado, uma tarefa complicada dadas as divisões políticas que a questão envolve.

Terry Haines, analista do banco de investimento Evercore ISI, disse que "continuamos a acreditar que grandes mudanças na Dodd-Frank são improváveis, pelo menos nos próximos dois anos".

As ordens de Trump foram recebidas com alarme pelos democratas, que as retrataram como sinal da prontidão da Casa Branca para prestar favores aos bancos.

"Creio que todo o mundo ficou chocado ao ver o sujeito do Goldman Sachs, apontado por Trump, como encarregado da missão de desregulamentar Wall Street [Gary Cohn, presidente do Conselho Nacional de Economia], depois dos ataques de Trump ao presidente-executivo do banco", disse Dennis Kelleher, da Better Markets, organização que favorece a regulamentação do setor financeiro.


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