Folha de S. Paulo


Sem carro novo, consumidor segura indústria da reposição

A queda na venda de carros novos não foi ruim para toda a indústria automotiva. O setor de reposição conseguiu manter o nível de atividade com o impulso dos carros usados.

A venda de pneus permaneceu praticamente estável (queda de 1,6%) porque, sem a compra de carros novos, quem tem um usado precisou trocar o pneu.

Assim, embora as vendas para reposição tenham recuado 1,8%, esse encolhimento foi muito menor do que o sofrido pelas vendas para carros novos, que caíram 9,2%, segundo dados da Associação Nacional da Indústria de Pneumáticos (Anip).

Peças de reposição, em geral, passaram por movimento semelhante. Na linha leve, o faturamento do segmento cresceu 5,35% no acumulado de janeiro a outubro em comparação ao mesmo período do ano anterior.

"Muitas fabricantes de peças não focavam tanto em reposição, mas com a queda na demanda por produtos originais, elas tiveram que se adaptar", afirma Elias Mofarej, conselheiro do sindicato das indústrias de peças.

A preocupação com a manutenção de um veículo mais velho também aumentou a procura por oficinas. Levantamento feito com 10 mil empresas do Estado de São Paulo mostra que a média de reparos diários passou de 76 no acumulado até novembro de 2015 para 84 até o mesmo mês do ano passado.

O tíquete médio, porém, caiu de R$ 542 para R$ 521, sinal de que o proprietário estava disposto a fazer o necessário -sem ir além disso.

CONSÓRCIO

De modo geral, o segmento de carros usados sobreviveu a 2016 com estabilidade das vendas. Associações do setor atribuem o relativo bom desempenho -quando comparado à venda dos novos- às alternativas ao financiamento bancário.

O consórcio para compra de usados cresceu 11,7% no último ano, em desaceleração quando comparado aos últimos anos, segundo dados da Cetip (empresa que opera o sistema nacional de gravames). Mas o crescimento dessa alternativa enquanto as concessões de crédito encolhem garantiu que o consórcio conquistasse 11% do mercado de usados.

Em um consórcio, uma pessoa que deseja comprar um bem -um carro ou uma casa, por exemplo- se junta a outras que têm o mesmo objetivo. Todo mês elas pagam o equivalente a uma parcela do bem, e um dos participantes desse condomínio é sorteado com a carta de crédito, que dará direito a compra do objeto desejado.

Nessa estrutura, não há pagamento de juros, apenas taxa de administração para o banco, mas é preciso esperar para adquirir o bem.

Já o financiamento tem a cobrança de juros, e bancos, com medo de calotes durante a crise, têm aumentado a exigência do valor a ser pago como entrada.

"A pessoa consegue adquirir um carro mais completo por preço menor e sem necessidade de pagar uma entrada", diz Alarico Assumpção, presidente da Fenabrave (entidade que representa as concessionárias).

Gilson Carvalho, presidente da Anef (associação das financeiras das montadoras), afirma que a principal dificuldade para conceder crédito é que as pessoas não buscaram empréstimos no último ano.

Ainda assim, o crédito junto a bancos e instituições ligadas à montadoras seguem como principal fonte de financiamento para compra de carros -sejam eles usados ou novos.

Para o planejador financeiro Renato Roizenblit, não houve uma migração de compradores para o consórcio, mas sim um represamento.

"Acredito que as pessoas foram sorteadas e não utilizaram a carta de crédito. Nos últimos meses elas ficaram mais seguras sobre a economia e esse estoque começou a ser utilizado", afirma.


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