Folha de S. Paulo


China quer barrar choque para tratar viciado em internet

Nos últimos anos, os campos de desintoxicação de internet, especialmente para jovens, vêm ganhando força na China, mas nas últimas semanas eles viraram motivo de escândalo no país, pelo tratamento abusivo, como surras e terapia de eletrochoque.

Casos como o de uma menina que matou a mãe de fome como represália por abusos que teria sofrido em um desses centros levaram o governo chinês a preparar neste mês um anteprojeto de lei para reprimir os excessos cometidos nesses locais.

A proposta proíbe tratamentos abusivos como terapias médicas e de eletrochoque, bem como "punições físicas", nos campos, mas não especifica que outras punições podem ser incluídas.

Os dados quanto ao número e o crescimento dos campos de desintoxicação de internet na China são escassos, mas os métodos de tratamento adotados por eles vêm gerando controvérsia há anos.

Entre os campos mais criticados está o Centro de Tratamento de Vícios da província de Shandong, no leste do país, que ao se que sabe já tratou com terapia de eletrochoque mais de 6.000 viciados em internet, desde que foi inaugurado, em 2006.

O centro ganhou as manchetes no país no ano passado pois foi de lá que saiu a menina que matou a mãe.

REAÇÃO

Especialistas receberam positivamente a proposta do governo chinês para coibir a violência. Segundo eles, é um primeiro passo para conter os escândalos no setor.

"É uma medida muito importante para a proteção de crianças pequenas", disse Tao Ran, diretor da Clínica de Vício em Internet no Hospital Militar Geral de Pequim.

Ele afirmou que já tratou diversos adolescentes chineses egressos dos campos de tratamento do vício em internet mostrando sinais de trauma psicológico.

"Eles não falavam, tinham medo de encontrar outras pessoas e se recusavam a sair de casa", disse em referência ao seus encontros com esses jovens. "Entravam em pânico só de ouvir as palavras 'médico' ou 'hospital'."

Qu Xinjiu, professor de direito da Universidade de Ciência Política e Direito da China, com sede em Pequim, afirmou que é disseminada pelo país a crença de que os pais têm a jurisdição suprema sobre os filhos e que nem mesmo as autoridades policiais podem interferir em questões familiares.

"É por isso que há tantos pais que mandam suas crianças para a terapia com eletrochoques mesmo quando pessoas de fora afirmam que isso é errado, disse Qu.

LIMITES

A legislação proposta pelo governo chinês também quer limitar o tempo diário que menores de idade podem dedicar a jogos de internet, em suas casas ou cibercafés.

Os provedores dos jogos teriam de tomar medidas técnicas para monitorar e restringir o uso, entre as quais forçar os usuários a usar seus nomes reais para registro.

O projeto de lei ainda não especifica o número máximo de horas permitido, mas os menores ficariam proibidos de jogar on-line –em casa ou em qualquer outro lugar– entre a 0h e as 8h.

Especialistas dizem ter dúvidas sobre a eficácia da medida. Para eles, os jovens conseguiriam burlar facilmente a regra de limite de horas.


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