Folha de S. Paulo


Recuperação do emprego formal deverá ser lenta, afirmam economistas

O ano de 2016 foi pior que 2015 para o mercado de trabalho. Embora a destruição de empregos formais tenha sido menos intensa, quem foi atrás de uma vaga encontrou um mercado de pior qualidade.

Estudo com dados reunidos até setembro pelos pesquisadores do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) José Ronaldo de Castro Souza Jr. e Sandro Carvalho mostra que o caminho de reinserção encontrado pela maior parte dos desempregados ocorreu pela informalidade.

Até o fim de 2014, a maioria dos desempregados que conseguiam ocupação encontrava um trabalho com carteira assinada. Em 2015, a balança se inverteu e, em 2016, a informalidade ganhou prevalência na transição.

Saldo de vagas formais**

Dados do IBGE mostram que o emprego sem registro em carteira teve trajetória ascendente de fevereiro a novembro, ao passo que a ocupação total (incluindo formais, domésticos e por conta própria) recuou. Mesmo em ascensão, porém, o trabalho informal paga hoje 3,3% menos do que há um ano.

Os economistas afirmam que o ajuste para baixo nos salários foi mais intenso em 2015 e estancou em 2016. E isso pode ser um dos motivos para a escalada da taxa de desemprego nos últimos meses.

Quanto ganha, em média, um contratado em relação ao que recebia um demitido* - Em %

"Imaginávamos uma desaceleração maior nos rendimentos, que acabou não acontecendo", diz a analista do Bradesco Ariana Zerbinatti.

A expectativa se baseava na constatação de que a atividade encolheu adicionalmente em 2016, após a retração de 2015. Mas o rendimento do trabalho parou de cair na segunda metade do ano.

"O dado positivo [o estancamento da queda] teve como subproduto negativo o desemprego. O empregador fica sem alternativa além da demissão", afirma o economista Bruno Ottoni, da FGV.

Trabalhadores sem carteira de trabalho, exclusive domésticos - Em milhões

GENTE NOVA

Formada em serviço social, Dayana Costa, 35, trabalha há dois meses como garçonete, sem carteira, e diz que as ofertas que aparecem pagam pouco e exigem jornadas longas, de até 10 horas por dia: "Eles querem gente nova, com 17, 18 anos, que topa receber salário mais baixo. No meu último trabalho, a mais velha era eu".

Em 2016, o mercado gerou mais empregos para essa faixa etária, mas as vagas são insuficientes, diz Hélio Zylberztajn, da USP. A taxa de desemprego dos jovens é mais alta (28%) do que para quem tem de 25 a 59 anos (9,5%).

Zerbinatti e Ottoni preveem que o emprego se recuperará no segundo semestre. Para Ottoni, porém, os empregos voltarão primeiro na forma de vagas temporárias e informais, e só depois com registro em carteira. "O custo de se contratar um trabalhador formal é alto", diz. "As empresas vão esperar até ter certeza da melhora antes de voltar a contratar assim."


Endereço da página:

Links no texto: