Folha de S. Paulo


Inflação de 2016 fica abaixo do teto da meta pela primeira vez em 2 anos

Rafael Neddermeyer/ Fotos Públicas
Índice oficial de inflação ficou abaixo do teto da meta do governo pela primeira vez desde 2014
Índice oficial de inflação ficou abaixo do teto da meta do governo pela primeira vez desde 2014

O ano de 2016 encerrou com inflação em 6,29%, divulgou o IBGE nesta quarta-feira (11).

Em dezembro, o IPCA, índice oficial de preços ao consumidor, avançou 0,30%.

O centro de expectativas de economistas consultados pela agência internacional Bloomberg calculava o IPCA em 0,34% em dezembro e apontava avanço de 6,34% no ano.

Foi a primeira vez desde 2014 que o índice oficial de inflação ficou abaixo do teto da meta do governo, de 6,5%.

A redução do consumo de bens e serviços no país em decorrência da recessão econômica fez ceder a inflação, que teve seu auge em 2015, ao atingir 10,67%, maior percentual de uma década.

Inflação no ano - Índice em 2016 ficou em 6,29%

Na ocasião, o país vivia o reflexo do movimento chamado tarifaço, resultante do represamento de preços, como o da energia, de maneira artificial pelo governo no ano anterior. O resultado foi aumento de preços generalizado, tanto na cadeia produtiva quanto no setor de serviços.

Em discurso na abertura de uma reunião com ministros de infraestrutura, o presidente Michel Temer comemorou a inflação oficial ter ficado dentro do teto da meta.

"Ninguém esperava que ao final do ano se chegasse abaixo da meta estabelecida. Toda a projeção para este ano é a redução ainda maior da inflação para ficar no centro da meta. Essa penso que seja uma boa notícia", disse Temer.

ALIMENTAÇÃO E BEBIDAS

Em dezembro, o grupo alimentação e bebidas foi o destaque na pressão de alta, segundo o IBGE, passando a subir 0,08% no mês contra queda de 0,20% em novembro. Na outra ponta, o grupo habitação apresentou queda de 0,59% nos preços, depois de subir 0,30% em novembro na comparação mensal.

Segundo o IBGE, o principal impacto para baixo na inflação em dezembro (-0,13 p.p.) veio da energia elétrica, com queda de -3,70% nos preços. Essa redução se deveu à volta da bandeira tarifária verde em 1º de dezembro, em substituição à amarela.

Em 2016, o principal impacto sobre a inflação também veio de alimentação e bebidas, com alta de 8,62% contra 12,03% em 2015, exercendo peso de 2,17 ponto percentual.

O maior impacto individual do ano coube à alimentação fora de casa, com 0,63 ponto percentual depois de os preços terem subido 7,22%.

Já a inflação de serviços, que vem sendo observada pelo BC e com o setor sofrendo os efeitos da demanda fraca, viu a alta desacelerar em 2016 a 6,50%, contra 8,09% em 2015. Só em dezembro, subiu 0,65%, frente a 0,42% de novembro.

Inflação - Variação por grupo, em %

CONSUMO

Em 2016, com o avanço do desemprego, os brasileiros reduziram o ritmo de consumo, o que diminuiu, por consequência, a pressão sobre os preços.

Em janeiro, a inflação começou alta, em 1,27%, mas cedeu nos três meses seguintes, até ter uma leve alta em maio. O motivo era que, embora já não houvesse mais a pressão da tarifa de energia, a grande vilã da inflação do ano anterior, os alimentos subiam por problemas nas safras pelo país.

Chuvas em abundância no Sul e secas no Nordeste fizeram disparar preços de alimentos importantes na cesta de compras do brasileiro. O cenário impediu que a inflação cedesse de forma mais contundente ao longo do ano.

Em setembro, o índice de inflação ficou em 0,08%, menor taxa para o mês em 18 anos. A desaceleração da inflação abriu espaço para o corte na taxa básica de juros, a Selic.

Inflação - Variação do IPCA, em %

No mês seguinte, em outubro, o Banco Central cortou a Selic pela primeira vez em quatro anos, para 14%. Em novembro, o BC fez o segundo corte e levou a taxa para 13,75%.

A próxima reunião do Copom (Conselho de Política Monetária) do BC ocorre nesta quarta-feira.

O governo enxerga na redução da taxa de juros uma oportunidade de reativar a economia. Juros baixos incentivam o consumo, mas o movimento pode levar a pressão de preços e inflação.

O mercado prevê, contudo, queda contínua da inflação neste ano, principalmente em razão da paralisação da economia.

A previsão é que o IPCA encerre 2017 em 4,81%, segundo Boletim Focus do Banco Central, divulgado na última segunda-feira (9). A partir deste ano, o intervalo de tolerância para a inflação cai para 1,5 ponto percentual. Ou seja, o teto recuará para 6% ao ano.

Sobe e desce da inflação

Maiores altas em 2016

  • Feijão-mulatinho: +101,59%
  • Feijão-preto: +78,05%
  • Tangerina: +74,47%
  • Multa de trânsito: +68,31%
  • Feijão-macassar (fradinho): +58,35%
  • Manteiga: +55,17%
  • Leite condensado: +53,95%
  • Farinha de mandioca: +46,58%
  • Feijão-carioca (rajado): +46,39%
  • Banana-maçã: 41,12%

Maiores quedas em 2016

  • Cebola: -36,50%
  • Batata-inglesa: -29,03%
  • Tomate: -27,82%
  • Laranja-bahia: -26,43%
  • Repolho: -24,02%
  • Cenoura: -20,47%
  • Manga: -14,05%
  • Maracujá: -12,05%
  • Energia elétrica residencial: -10,66%
  • Carne de carneiro: -9,73%

Colaborou DIMMI AMORA, de Brasília


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