Folha de S. Paulo


Fábricas mudam rotina para atrair trabalhador da nova geração chinesa

Reuters
Employees work at a production line of a Dongfeng Peugeot Citroen Automobile factory in Wuhan, Hubei province, in this February 13, 2014 file picture. The chairman of China's Dongfeng Motor Group said on March 28, 2014 that cooperation with French carmaker PSA Peugeot Citroen is not limited to the Asia-Pacific, and that Brazil and Russia are possible future markets. The Asia-Pacific region is just a
Trabalhadores em fábrica de carros em Wuhan, na China

Quando Ioan Gornic subitamente disparou "No Limits", um hit de dance music dos anos 90, cerca de 20 executivos europeus que dirigem fábricas na China começaram a se ajeitar nervosamente em suas cadeiras, tentando não olhar os colegas nos olhos.

"Não se preocupem, não vou cantar", disse Gornic, gerente-geral da Zobele, empresa italiana que produz repelentes de insetos e ambientadores, em Shenzhen (China).

"Só estou tentando demonstrar que os únicos limites que existem são aqueles que nós nos impomos."

Gornic estava conduzindo uma oficina sobre "gestão de talentos" para executivos no coração industrial da China, onde os salários em rápida ascensão, as mudanças demográficas e as necessidades diferenciadas da geração milênio (entre 20 e 30 anos) estão forçando as empresas a repensar a maneira como lidam com sua força de trabalho.

Em lugar de tratarem os trabalhadores como um recurso ilimitado e de fácil substituição, ele diz que os gestores "precisam compreender melhor quem eles são, o que eles precisam e como torná-los mais eficientes".

Diferentemente de seus pais, que viam um emprego na indústria como rara oportunidade de avançar, os jovens chineses têm mais opções e desejam mais controle sobre suas vidas.

"Eles não estão mais dispostos a aceitar qualquer oferta", diz Susanne Choi, professora de sociologia na Universidade Chinesa de Hong Kong e estudiosa dos trabalhadores migrantes da China. "A geração mais jovem tipicamente tem nível de educação mais elevado e um histórico familiar melhor."

Os gestores de fábricas dizem que estão tendo de adotar abordagem mais ponderada quanto ao seu pessoal, oferecendo horas extras aos operários ávidos por ganhar mais, mas permitindo que outros realizem apenas as jornadas de trabalho acertadas em contrato.

Paris Hadjisotiriou, executivo da Oberthur Technologies, empresa francesa que fabrica cartão de crédito, disse que tentou conquistar a lealdade de seu pessoal por meio de um serviço de encontros.

Muitos jovens operários preferem retornar às suas cidades de origem depois de alguns anos de trabalho, a fim de encontrar um par ideal para casamento. Por isso, ele organizou eventos sociais para ajudar operários e operárias de diferentes fábricas a se conhecerem, porque "é mais fácil reter esse pessoal se eles forem capazes de encontrar um namorado ou namorada".

Para Gornic, as fábricas precisam fazer mais do que simplesmente oferecer melhores acomodações e instalações esportivas.

Ele desenvolveu um programa que busca formandos em cursos de pós-graduação e os treina para postos de comando e outro que ajuda os melhores dos operários de baixa capacitação nas fábricas a avançarem rumo a postos de supervisão.

Ele também está implementando o conceito japonês de kaizen (melhora contínua), criando equipes de executivos e trabalhadores que tentam cortar minutos e custos vitais no processo industrial.


Endereço da página: