Folha de S. Paulo


Recessão econômica do Brasil põe conta do petróleo no azul

A recessão econômica está tão forte e prolongada que transformou em superavit um dos principais rombos da balança comercial brasileira: a conta petróleo.

No vermelho desde 1997, quando começa a série histórica atual, a conta petróleo é resultado das exportações menos as importações de petróleo e derivados (uma conta que inclui gasolina, diesel, nafta e querosene de aviação, por exemplo).

De janeiro a novembro, a conta petróleo acumulou superavit de US$ 416 milhões —o primeiro saldo positivo desde o início do levantamento. No mesmo período do ano passado, o deficit estava em US$ 6,2 bilhões, conforme dados oficiais do governo.

"O bom resultado da conta petróleo é conjuntural. Quando a economia retomar o crescimento, será negativo de novo", afirma José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB).

O superavit no setor de petróleo e derivados só foi alcançado com a ajuda da queda do preço do barril (que chegou a valer mais de US$ 100 em 2014 e hoje está cotado a cerca de US$ 50) e do menor consumo de combustíveis (queda de 4% de janeiro a novembro em relação ao mesmo período do ano passado), provocado pela recessão que já dura dois anos.

Nesse cenário, as importações de petróleo e derivados caíram 42% em valor e 18% em volume de janeiro a novembro. Isoladamente, as compras externas de combustíveis recuaram 33,5%.

A queda da demanda local também permitiu que a Petrobras vendesse mais no mercado externo.

As exportações de petróleo e derivados recuaram 18,6% em valor devido à queda do preço médio anual do barril, mas subiram 7% em volume.

O consumo de petróleo e derivados acompanha de perto o desempenho da economia. Em 2012, ainda sob o impacto dos estímulos fiscais adotado pela gestão de Dilma Rousseff para a venda de veículos e do "congelamento" do preço da gasolina, a conta petróleo atingiu o rombo recorde de US$ 20,4 bilhões.

GARGALO NO REFINO

Para Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), o prejuízo voltará a crescer, quando a economia se recuperar.

"O Brasil pode se tornar um importador importante de gasolina", diz.

Ele explica que o gargalo está no refino, já que praticamente não foram construídas novas refinarias no país nos últimos anos.

Os megaprojetos anunciados pela Petrobras se tornaram inviáveis por causa de pressão política e da corrupção desvendada pela Operação Lava Jato.

O especialista, no entanto, descarta uma situação crítica como a ocorrida na década de 70, quando os choques do petróleo custaram caro à economia brasileira.

Naquela época, as contas externas foram atingidas em cheio pelo súbito aumento do preço da commodity, porque a produção da Petrobras ainda engatinhava.


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