Folha de S. Paulo


Empresa que cresceu com apps aposta em vários projetos ao mesmo tempo

A Movile, empresa que desenvolve aplicativos para telefones celulares, tem em sua história dos últimos quatro anos uma série rara de sucessos no mercado brasileiro.

Nessa lista estão o lançamento em 2013 do PlayKids, espécie de Netflix infantil que já é usado em mais de cem países, e investimentos no iFood, principal aplicativo para pedir comida no Brasil, e no Rapiddo, serviço de chamada de motoboys pela internet.

Mas o presidente e cofundador da empresa, Fabrício Bloisi, 39, logo corrige quem pensa que os tiros certeiros são regra na vida da Movile.

"A gente tem 200 ideias por ano, coloca metade delas no ar, 90 dão errado. Mas as dez que dão certo viram a empresa do futuro", afirma Bloisi.

Por trás dessa fábrica de erros há uma lógica consagrada pelos manuais das start-ups, como são conhecidas as empresas iniciantes baseadas em inovação tecnológica.

Em vez de discutir um projeto por muitos meses, criar planos de longa duração e investir milhões, melhor lançar ideias rapidamente e gastando pouco e ver como elas são aceitas pelos consumidores.

Se nada der certo, o jeito é desistir logo e tentar outra coisa. Se funcionar, investe-se para expandir o novo serviço.

A descoberta de que o PlayKids faria sucesso com as crianças surgiu nesse tipo de experiência. Foram lançados cerca de seis serviços semelhantes ao mesmo tempo, incluindo um para ouvintes de funk. Fracassos retumbantes cujos nomes Bloisi afirma nem lembrar mais.

A tolerância com o fracasso, porém, não combina com ambições reduzidas.

A reportagem ouviu criadores de alguns dos projetos que receberam investimentos da Movile e eles dizem que as reuniões com Bloisi sempre terminam com as metas jogadas para cima, com muito incentivo a "sonhar grande".

Bloisi confirma, mas diz que suas ponderações são baseadas em dados reais.

"O que faço é mostrar que produtos semelhantes na China, no Reino Unido, nos EUA abriram capital na Bolsa e dá para fazer algo maior. Às vezes, aumento as metas em 200%, mas explico o motivo."

Criar algo grandioso é obsessão que faz questão de lembrar sempre. Seu mantra: "Queremos ser uma empresa de 1 bilhão de clientes". Atualmente, a companhia brasileira tem 110 milhões.

TRAJETÓRIA

Sua trajetória também deixa claro esse desejo. Em 2008, ele entregou dissertação de mestrado na Fundação Getulio Vargas com o título "Estratégia de Crescimento Acelerado em Start-ups". Muito do que estudou naquele momento foi aplicado imediatamente em sua empresa.

Foi nessa época que a companhia recebeu seu primeiro investimento do grupo sul-africano Naspers, adotou sistema de remuneração variável para seus profissionais e passou a comprar dezenas de rivais para consolidar seu mercado de atuação, como preconizava o texto de Bloisi.

Na época, sua companhia, aberta em 1998 com o colega de Unicamp Fábio Póvoa, faturava cerca de R$ 10 milhões. Ele não revela números atuais, mas só o iFood espera movimentar R$ 1 bilhão em 2016. A empresa fica com comissão de 12% por pedido.

A companhia já levantou US$ 136 milhões em investimentos, a maior parte deles da Naspers.

Marcelo Nakagawa, professor do Insper, diz que o ponto forte da Movile é sua capacidade de reinvenção.

A empresa já vendeu toques para celular e teve durante a maior parte de sua história sua receita vinculada ao envio de conteúdo via as hoje antiquadas mensagens de celular (notícias, horóscopo, saldo de FGTS etc.).

Bloisi diz que agora a maior parte do faturamento da empresa vem de serviços incorporados a partir de 2013.

Outro erro que Bloisi não esconde está relacionado ao nome da empresa. Até se tornar Movile em 2011, a empresa teve outros quatro nomes.

Incomodado com o fato, decidiu contratar uma consultoria para obter sugestões para um nome definitivo.

Recebeu três sugestões, mas não gostou de nenhuma delas. Preferiu chamar o negócio de Movile, que pertencia a uma pequena agência com quatro pessoas que sua empresa havia comprado.

"Por causa disso, o fundador da Movile brinca que, na verdade, foram eles que compraram a gente", diz Bloisi.

O empresário afirma que sua empresa provavelmente será muito diferente em cinco anos e, por isso, pesquisa constantemente novas tecnologias. "Inteligência artificial, realidade aumentada, carros autônomos, drones, impressoras 3D, tudo isso vai mudar o mundo ainda muito mais em cinco anos", diz.

O executivo sabe que estará enganado na maior parte das suas previsões, mas ele acredita que algo deve dar muito certo.

*

Fundação: 1998

Funcionários: Mais de 1.500 em 7 países

Principais concorrentes: Netflix (para PlayKids), PedidosJá (iFood), Ingresse e Ingresso Rápido (Sympla)

Investimento recebido: US$ 136 milhões de grupos como Naspers, Finep e Innova (fundo de Jorge Paulo Lemann)

ALGUNS DOS PRINCIPAIS INVESTIMENTOS

PlayKids
Dá acesso a vídeos e jogos para crianças e foi baixado por 17 milhões de pessoas em mais de 100 países

iFood
Principal empresa de delivery de comida do Brasil

Rapiddo
Conecta motoboys e clientes que precisam mandar encomendas a partir de app

LBS Local
Reúne as empresas com tecnologias para logística e geolocalização

Sympla
Permite que qualquer pessoa crie eventos e venda ingressos pela internet

Superplayer
Serviço de música pela internet


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