Folha de S. Paulo


Juro do cartão de crédito bate recorde em novembro e chega a 482,1% ao ano

Os juros do rotativo do cartão de crédito, que o presidente Michel Temer promete reduzir à metade no próximo ano, alcançaram 482% ao ano em novembro. Esse é o maior patamar para essa modalidade de crédito desde que o Banco Central começou a divulgá-la, em março de 2011.

O rotativo é a linha emergencial de crédito usada por quem não consegue pagar o valor integral da fatura do cartão. Em outubro, os juros dessa modalidade estavam em 476% ao ano, diz o BC.

Os juros do cheque especial também bateram recorde: chegaram a 331% ao ano em novembro, a maior taxa da série histórica do Banco Central, que começa em 1994. Em outubro, a taxa era de 329%.

O plano do governo é reduzir os juros dos cartões proibindo o uso do rotativo por mais de 30 dias. Após esse prazo, os bancos terão que obrigatoriamente parcelar as dívidas dos clientes, como muitos já fazem atualmente.

A taxa de juros para parcelamento de faturas de cartão de crédito ficou em 155% ao ano em novembro, segundo o levantamento feito pelo BC.

A mudança nas regras foi anunciada por Temer na quinta (22), mas ainda depende de regulamentação pelo Conselho Monetário Nacional). A intenção do governo é que a mudança seja posta em prática no fim de março.

A medida, cujo objetivo é agradar especialmente às famílias de classe média que se endividaram na crise, faz parte do pacote de fim de ano anunciado por Temer, que também incluiu benefícios para empresas e trabalhadores.

O chefe do departamento econômico do BC, Tulio Maciel, lembrou que o rotativo do cartão e o cheque especial são linhas muito caras e devem ser usadas com cautela.

"O rotativo é para ser tomado em situações pontuais, um crédito emergencial, para ser tomado com prazo curto", disse. "É algo imediato, mas esse conforto é acompanhado por um custo mais alto."

O CUSTO DA DÍVIDA - Juros no rotativo, que governo que limitar, seguem em alta

EMPRÉSTIMOS

Depois de seis meses de recuo, o saldo das operações de crédito teve uma elevação mensal de 0,3% em novembro e somou R$ 3,1 trilhões. Apesar da alta no mês, em 12 meses o crédito continua a cair, com um recuo de 2,3%.

"O crédito segue em retração, mas há sinais de alguma acomodação desse movimento", avaliou Maciel. O Banco Central, que esperava redução de 2% no saldo de crédito no ano, revisou a previsão para um recuo de 3%. Será a primeira vez que o Banco Central registra uma retração anual do saldo de crédito.

"[O resultado] está associado à conjuntura, sobretudo a retração da atividade econômica no ano", disse Maciel.

A retração do crédito se deve principalmente às empresas. Em 12 meses, o saldo dos empréstimos a pessoas jurídicas teve um recuo de 7,2%. No mesmo período, o saldo de crédito para pessoa física cresceu 3,2%. O saldo de crédito teve alta de 6,7% em 2015. Para 2017, o BC informou que espera crescimento de 2%.

Dívida de R$ 1.000

INADIMPLÊNCIA

Maciel classificou como "comportada" a inadimplência deste ano. A inadimplência total, que considera pessoas físicas e empresas, acumula uma alta de 0,4% neste ano. Para as pessoas jurídicas, a alta é de 0,9%. Para as pessoas físicas, foi registrada uma retração de 0,1%.

"Tivemos uma inadimplência comportada, considerando quadro adverso da economia", disse Maciel. As taxas de juros, de forma geral, ficaram em 33% ao ano em novembro e tiveram recuo de 0,3% no mês. Segundo Maciel, contribuiu para esse movimento a redução da Selic, a taxa básica de juros. No ano, no entanto, as taxas de juros acumulam alta de 3,2%.


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