Folha de S. Paulo


Greve contra pacote de ajuste fiscal é inoportuna, diz governador do RS

Itamar Aguiar/Agência Freelancer
PORTO ALEGRE, RS, BRASIL 10.12.2015: O governador José Ivo Sartori recepcionou o Presidente da República em Exercício, Michel Temer, no Palácio Piratini na tarde desta quinta-feira (10). Temer veio capital gaúcha para palestrar no Brasil de Ideias, ciclo de debates promovido pela Revista Voto. Foto: Itamar Aguiar/Agencia Freelancer. *** PARCEIRO FOLHAPRESS - FOTO COM CUSTO EXTRA E CRÉDITOS OBRIGATÓRIOS ***
O governador do RS (à dir.), José Ivo Sartori, e o presidente Michel Temer

Em meio a um ajuste fiscal e ameaças de greve, o governador do Rio Grande do Sul, José Ivo Sartori (PMDB), afirma que as medidas adotadas pelo Estado estão "acima de política ou ideologia" e que este é o momento de "superar individualismos".

"Governar também é contrariar interesses", disse o governador, para quem as greves contra o pacote que corta secretarias e demite funcionários são "inoportunas e fora de foco".

Nesta terça (13), professores estaduais paralisaram as atividades e outras categorias ameaçam parar. A reforma deve ser votada pela Assembleia na semana que vem.

A poucos dias do fim do ano, o Estado ainda não sabe de onde sairá o dinheiro para pagar o 13º salário. Nesta quarta-feira (14), Sartori e os governadores do Rio, Luiz Fernando Pezão (PMDB), e de Minas Gerais, Fernando Pimentel (PT), vão a Brasília para pressionar o governo federal a ajudar os Estados.

Questionado se faltou gestão ao Estado, Sartori afirmou que "não olha para trás, quer olhar para a frente".

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Folha - Os professores estaduais anunciaram paralisação, e outras categorias ameaçam parar. É um mau momento para fazer ajuste fiscal?

José Ivo Sartori - É um momento inoportuno, inadequado e fora de foco para as greves. O ajuste é necessário. Do jeito que está, não poderia ficar. E isso não é de agora. O Estado, ao longo de sua história, sempre esteve voltado para si mesmo, e não olhou para a sociedade. Em 45 anos, o Rio Grande do Sul teve superavit em apenas sete. Esta não é uma questão política ou ideológica. É uma luta incessante para o equilíbrio financeiro do Estado. É evidente que isso gera sacrifícios, e os sacrifícios terão que ser compartilhados.

Dá para impor um ajuste fiscal numa situação de cada vez mais demanda por serviços públicos? Como explicar isso para a população?

A gente explica dizendo que, se não fizermos isso, não teremos recursos para a saúde, segurança, educação.

O sr. tem dito que é preciso rever o papel do Estado. Mas a Constituição prevê uma série de obrigações. O Estado de direitos acabou?

Não, em absoluto. Mas temos que superar individualismos e observar a intranquilidade do país. Nós estamos vivendo uma crise econômica e social sem precedentes. É preciso ver o que a sociedade suporta pagar. O Estado tem que trabalhar para ter equilíbrio financeiro, senão não vai conseguir prestar serviços. Eu sempre digo: isso tudo está sendo feito para termos mais dinheiro para as políticas sociais, para a população que mais precisa. Nós sabemos quais são as prioridades.

Os juízes estaduais tiveram uma reação forte ao pacote e argumentam que vão perder a autonomia. O sr. concorda?

Tanto o Poder Legislativo quanto o Tribunal de Justiça, no momento em que precisamos, sempre colaboraram. Agora, é evidente que tem aqui ou acolá outro desejo. Mas é preciso que esse sacrifício seja compartilhado.

Eles dizem que fizeram sua parte em termos de gestão, e o Executivo, não. Faltou competência ao governo gaúcho?

Não posso avaliar a história. Não sou daqueles que olham para trás. Quero olhar para a frente. Vou cumprir com meu papel. Em todo o período eleitoral disse em alto e bom som que iria fazer o que precisa ser feito. E tenho convicção de que estou fazendo.

As medidas que o sr. vem propondo são impopulares...

Eu tenho certeza que a maioria da sociedade está apoiando. Agora, alguns interesses contrariados sempre vão existir. E governar também é contrariar interesses.

Não é suicídio político?

O dia em que estiver pensando na próxima eleição, não cumprirei o meu papel de governante. A reação da população é muito positiva. A maior dificuldade é no mundo interno do Poder público.

Além do Rio Grande do Sul, Estados como Minas Gerais e Rio vivem uma grave crise financeira. A Lei de Responsabilidade Fiscal não deu certo?

Nós estamos fazendo nosso dever de casa. Mas acho que faltou atacar muita coisa. Ninguém se deu conta de que um dia iam faltar recursos. Agora, o Poder público tem que se refazer.

Há temor de que a Assembleia gaúcha também seja invadida por manifestantes, como ocorreu em outros Estados?

Não vou provocar situação nenhuma. Nós cumprimos nosso papel institucional e vamos continuar fazendo nossa parte. Quanto aos outros, quem participa dos movimentos, espero que tenham serenidade e tranquilidade.

Ainda não há previsão para o pagamento do 13º?

Sem previsão. No ano passado, recorremos ao Banrisul [banco estadual, que fez empréstimos para o pagamento dos salários]. Mas desta vez não podemos mais, porque o Estado não tem o que oferecer nessa negociação.


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