Folha de S. Paulo


Mulheres são raras entre os colecionadores de cédulas e moedas

O anúncio de que Harriet Tubman, uma mulher negra abolicionista que ajudou milhares de escravos a escapar no século 19, estampará a cédula de US$ 20 no lugar do escravocrata Andrew Jackson causou furor no início do ano.

A mudança decidida pelo Departamento do Tesouro americano fez muita gente no mundo inteiro se questionar: onde estão as mulheres no dinheiro?

Esse é o tema de estudo da argentina Mabel Ros, 68, autora do livro "Mulheres nas Moedas e Cédulas nas Américas".

No Brasil, por exemplo, apenas duas mulheres foram representadas nos meios de troca nacionais: a princesa Isabel, na cédula de cinco centavos de cruzeiros novos, e a poetisa Cecília Meireles, na de cem cruzados novos, de acordo com Ros.

Mas não é só no dinheiro que as mulheres estão sub-representadas. Entre colecionadores, elas também são minoria.

Uma das explicações para esse fato é histórica: até o passado recente, mulheres não tinham recursos próprios nem tempo livre para alimentar um hobby como o de colecionar, afirma a argentina.

Embora esse contexto esteja mudando, a comunidade numismática continua muito fechada à presença feminina.

De acordo com o terapeuta sexual e colecionador Oswaldo Rodrigues Júnior, 57, mulheres tentaram se aproximar desse mundo no Brasil nos anos 1980 e 1990, mas acabaram se afastando ao se sentirem hostilizadas pelas investidas dos colegas.

A internet vem abrindo as portas da numismática para mulheres, que conseguem comprar e vender peças sem ter que necessariamente se integrar à comunidade, diz o psicólogo.

No clube do bolinha dos numismatas, o papel delas é o de vilã. Uma piada frequente entre os entusiastas é "não conta para a minha mulher quanto eu gastei na minha coleção".


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