Folha de S. Paulo


Brasil pede à indústria 'trégua' em pedidos de proteção contra China

O governo solicitou ao setor privado uma "trégua" nos pedidos de proteção contra os produtos importados da China até meados de 2017.

O objetivo é evitar que o Brasil tome a frente em uma das maiores polêmicas do comércio exterior: o reconhecimento da China como economia de mercado.

Neste domingo (11), expira o prazo de 15 anos acertado em 2001, quando os asiáticos entraram na OMC (Organização Mundial do Comércio), para que os demais países tenham autorização para discriminar os produtos chineses e taxá-los com mais rigor.

O argumento para o tratamento diferenciado é que a China não é uma economia de mercado, ou seja, os preços dos seus produtos são artificialmente baixos em razão da interferência do governo, concedendo subsídios ou manipulando o câmbio.

EUA, União Europeia e Japão já sinalizaram que a China não eliminou essas distorções e que não vão considerar o país como uma economia de mercado. Os chineses disseram que isso é inaceitável.

"Cada país está fazendo a sua interpretação sobre um artigo específico que deixa de ter validade. Isso vai gerar bastante controvérsia, porque é um tema sensível", afirma Roberto Azêvedo, diretor-geral da OMC.

Por isso, é provável que a China inicie uma disputa nos tribunais do órgão contra o primeiro país que aplicar sobretaxas contra seus produtos a partir da agora. Os EUA devem puxar a fila, e a decisão da OMC sobre o caso servirá de referência para o resto do mundo.

Para evitar problemas com a China, o governo brasileiro reuniu representantes da indústria no início do semestre e pediu que eles antecipassem seus pedidos de aplicação ou de revisão de sobretaxas contra dumping, que é a venda abaixo do preço de custo.

A indústria atendeu ao apelo e foram aplicadas ou prorrogadas seis tarifas antidumping contra a China nos últimos meses para produtos variados. Procurado, o Ministério da Indústria (Mdic) não deu entrevista.

DUMPING

A punição contra o dumping está no centro da preocupação da indústria no Brasil e nos demais países. Até agora, os países desconsideravam os preços praticados na China e adotavam outra referência no cálculo do dumping.

A manobra permitiu que as taxas aplicadas contra produtos chineses fossem significativamente mais altas. No caso do Brasil, a tarifa antidumping média é de 98,6% contra a China e de 40,4% contra os demais países, conforme estudo da consultoria Barral MJorge Associados.

Com o novo status da China como economia de mercado, não se sabe se a maneira de fazer o cálculo vai mudar.

"Hoje há enorme incerteza sobre como a defesa comercial vai funcionar daqui para a frente", diz Carlos Abijaodi, diretor de desenvolvimento industrial da CNI (Confederação Nacional da Indústria).

Segundo apurou a Folha, o governo brasileiro, por enquanto, não deve fazer modificação nas regras para as investigações antidumping.


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