Um tuíte do presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, em 2014, mantém as empresas americanas de tecnologia em estado de alerta desde sua vitória.
Foi em resposta à regulação da neutralidade de rede (princípio pelo qual todos os dados devem ter tratamento isonômico na internet) pelo presidente Barack Obama.
"O ataque de Obama contra a internet é outra tomada de poder de cima para baixo", escreveu Trump, em novembro daquele ano. "A neutralidade de rede é a Doutrina da Equidade. Terá como alvo a mídia conservadora."
Doutrina da Equidade (Fairness Doctrine) foi uma política adotada pela Comissão Federal de Comunicações dos EUA (FCC) entre 1949 a 1987. Determinava que os concessionários de radiodifusão (rádio e TV) cobrissem os assuntos de maneira equilibrada e justa.
Pela regulação da neutralidade de rede adotada há quase dois anos, provedores de acesso à internet (como Verizon e AT&T ) não podem cobrar a mais ou alterar a velocidade de fornecedores de conteúdo via internet (como Facebook, Netflix, Amazon e organizações jornalísticas).
O temor cresceu nas últimas semanas com a indicação por Trump, para a área de telecomunicações de sua equipe de transição de governo, de três assessores críticos da neutralidade da rede, Roslyn Layton, Mark Jamison e Jeff Eisenach, este conhecido ex-lobista de teles. Um deles poderia ser indicado para comandar a FCC.
De passagem pelo Brasil, o vice-presidente para assuntos jurídicos do Facebook Paul Grewal afirmou que é preciso esperar para ver. Questionado se Trump e seus novos assessores representavam risco para a neutralidade de rede, respondeu:
"Como muitos americanos, estamos todos observando para ver como as coisas vão acontecer, não só quanto à neutralidade. Qualquer pessoa que afirme ter uma ideia clara sobre os rumos dessa administração é um otimista".
O chefe de conteúdo da Netflix, Ted Sarandos, defendeu na quarta-feira (30) a manutenção por Trump da regulação "politicamente popular" adotada por Obama.
Mas sublinhou que "essa é uma nova administração imprevisível, com certeza". Potencialmente a maior prejudicada por uma reviravolta em relação à neutralidade de rede, a Netflix responde por 35% do tráfego de internet nos EUA e no Canadá.
No país para lançar "3%", primeira série brasileira da Netflix, Erik Barmack, vice-presidente de conteúdo internacional da empresa, também defendeu: "Neutralidade de rede é um conceito muito importante para nós. Queremos que as pessoas tenham acesso não só à Netflix mas a uma variedade de opções".