Folha de S. Paulo


Estatal do combustível nuclear cobra do governo investimentos

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Angra 3 será a terceira usina da Central Nuclear Almirante Álvaro Alberto (CNAAA), localizada na praia de Itaorna, em Angra dos Reis (RJ). divulgacao ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
Obras de Angra 3, que foram paralisadas, em Angra dos Reis (RJ)

A sede das Indústrias Nucleares do Brasil (INB), em Resende (RJ), guarda há dois anos 69 elementos combustíveis fabricados para abastecer a usina de Angra 3.

São grandes estruturas metálicas com 236 varetas recheadas com pastilhas de urânio cada uma e que são usadas para gerar energia em um reator.

O estoque representa 30% da necessidade para colocar Angra 3 em operação, mas a produção foi suspensa diante das incertezas com relação à conclusão da obra, paralisada após a descoberta do pagamento de propinas a executivos da estatal Eletronuclear.

Ainda assim, a estatal criada para produzir combustível nuclear no Brasil tenta convencer o governo a aprovar um investimento de US$ 600 milhões na ampliação de sua capacidade.

Os recursos seriam destinados à segunda fase do processo de enriquecimento de urânio no país, para conseguir abastecer completamente as duas primeiras usinas já em operação (Angra 1 e 2) e a terceira, com as obras paradas.

Nessa etapa da fabricação do combustível, o urânio é colocado em centrífugas para ampliar a concentração de partículas com maior poder energético.

Urânio: mineração e energia

Dono da sexta maior reserva mundial do mineral, o Brasil começou a enriquecer urânio em 2006, a partir de tecnologia desenvolvida pela Marinha, tornando-se o oitavo país a dominar essa etapa.

Atualmente, com 60% da primeira fase já em operação, a capacidade da INB supre 16% da demanda nacional por urânio enriquecido.

O restante é enviado ao exterior para enriquecimento –depois de enriquecido, o urânio é transformado em pastilhas para a fabricação dos elementos combustíveis.

A ideia é que os últimos 4 de 10 conjuntos de centrífugas da primeira fase sejam instalados até 2019, sete anos depois da previsão original. Com isso, a empresa conseguirá atender 100% da necessidade de Angra 1, a menor das usinas.

A segunda fase prevê a instalação de 11 novos conjuntos de centrífugas, suficientes para abastecer também as duas outras usinas de Angra.

A INB defende o investimento alegando que as novas instalações gerariam uma economia de divisas de US$ 51 milhões por ano, com o fim do pagamento pelo serviço de enriquecimento no exterior.

"O tempo de retorno do investimento será da ordem de 12 anos, o que é aceitável para um empreendimento industrial desse porte."

Se aprovado, o projeto só começaria a ser posto em prática a partir de 2019.

Mas a INB quer começar em 2017 o processo de licenciamento ambiental e na Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen), o órgão regulador do setor.

OFERTA DE ENERGIA - Matriz energética do Brasil em 2015

INCERTEZAS

O problema é que não há, hoje, certeza sobre quando –e se– a usina de Angra 3 sairá do papel. Em entrevista recente, o presidente da Eletrobras, Wilson Ferreira Jr, disse que não conta mais com a usina antes de 2021.

As obras foram suspensas em 2015 por divergências com as construtoras contratadas, a maior parte delas investigadas pela Operação Lava Jato.

Não há no governo, neste momento, uma estratégia para retomar as obras. Enquanto isso, o plano de construir mais usinas nucleares no país foi novamente engavetado.

O Ministério de Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) diz que a energia nuclear é uma das "várias formas" de atender a necessidade futura de energia do país, mas que investimentos no setor ainda estão sendo analisados do ponto de vista do retorno.

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