Folha de S. Paulo


Governo estuda cardápio de medidas microeconômicas para estimular PIB

Uma ala do governo Michel Temer decidiu elaborar um conjunto de "medidas microeconômicas" para submetê-las ao presidente como forma de tirar o país da recessão e também como reação ao aumento da tensão política no país, com reflexo nas ruas.

Um assessor presidencial disse à Folha que as medidas não serão contra a política de ajuste fiscal do ministro Henrique Meirelles (Fazenda), mas um complemento para fazer a transição até que as reformas estruturais tenham efeito na economia.

A decisão de elaborar as medidas voltadas para estimular o consumo de empresas e pessoas físicas foi tomada diante da piora do clima político, social e econômico nesta reta de final de ano, o que não estava dentro das expectativas do governo.

"A piora de hoje compromete o amanhã, por isso não podemos ficar acomodados aguardando os resultados das reformas fiscais", resumiu um assessor presidencial envolvido nas discussões.

As ações não podem envolver, segundo esse auxiliar, desonerações de impostos nem liberação de crédito subsidiado, ao estilo Dilma Rousseff, porque isso seria "puxar o tapete" de Meirelles.

Elas podem envolver a liberação de recursos do FGTS e ações para que empresas e pessoas físicas possam refinanciar e reestruturar definitivamente seu endividamento, acabando com a atual crise de crédito na economia.

TOTAL APOIO

Dentro do governo, Temer passou o recado de que qualquer estudo de ações voltadas para o consumo não pode representar enfraquecimento do ministro da Fazenda, que segue com seu apoio total.

Em almoço na semana passada, Temer, ao lado de Meirelles, fez um discurso afinado com seu ministro, de que não há espaço para medidas mágicas na economia.

Depois desse encontro com Meirelles, porém, a pressão interna por iniciativas para impulsionar a economia cresceu, principalmente diante da avaliação de que o governo precisa reagir para sair das cordas imediatamente.

Dentro do governo, a equipe de Meirelles diz que ele enfrentou situações semelhantes quando era presidente do BC no governo Lula. E que, apesar das pressões, manteve seu plano de voo.

Depois, dizem assessores, críticos reconheceram que a política monetária funcionou e o país voltou a crescer forte.

Nesse cenário, passou a circular a informação de que o PSDB cobra ações de impacto imediato na economia. Em reação, Temer disse que sempre conversa com os tucanos, inclusive ouvindo sugestões de Armínio Fraga, mas que isso não significa uma perda de poder de Meirelles.

JUROS

Em outra frente, o Planalto tem a expectativa de que, no início do próximo ano, o BC comece a acelerar o corte na taxa de juros.

O problema, destacam assessores, é que, mesmo que o ritmo de redução dos juros seja acelerado, seus efeitos sobre a economia demoram de seis a nove meses. O mesmo acontece, lembram, com as reformas estruturais.

Daí a necessidade de tentar adotar um cardápio de medidas para tirar o país da recessão.


Endereço da página:

Links no texto: