Folha de S. Paulo


Após prisão de Esteves, BTG viveu pior cenário possível, diz CEO do banco

Após a prisão do banqueiro André Esteves, os clientes do BTG Pactual puderam ver como a instituição se comporta "no pior cenário possível", afirmou Roberto Sallouti, principal executivo da instituição.

Segundo ele, o banco voltou à normalidade e o episódio é "página virada".

"Sempre ouvimos falar dos stress tests teóricos que são feitos por bancos centrais do mundo. Passamos por um teste de stress real", disse Sallouti nesta terça (29) durante lançamento do BTG Pactual Digital, referindo-se aos exercícios feitos por autoridades monetárias para verificar a solidez de bancos.

Para ele, a crise gerada pela prisão de Esteves tornou-se um "legado positivo" para o BTG.

"Todos tiveram seus investimentos seguros. Os que quiseram sacar tiveram seus recursos totalmente disponíveis. Hoje, já voltou à normalidade", afirmou.

Sócio e então presidente do BTG e do conselho de administração, André Esteves foi preso em novembro de 2015, acusado de participar de uma trama para tentar atrapalhar as investigações da Lava Jato.

A notícia assustou investidores. Alvo de saques, o banco vendeu carteiras de empréstimo e ativos e levantou uma linha de crédito junto ao Fundo Garantidor de Crédito.

Esteves, que sempre negou as acusações, foi solto em dezembro do ano passado e, em abril deste ano, foi autorizado pelo STF a deixar a prisão domiciliar e voltar a trabalhar.

NOVA FRENTE

Com a casa arrumada, o banco se lançará num novo segmento.

Com o BTG Pactual Digital, tentará popularizar sua clientela, dando acesso aos fundos do banco a quem estiver disposto a investir a partir de R$ 3.000.

Apesar de o valor de entrada ser baixo, o foco da instituição é atrair clientes de alta renda, afirmou Marcelo Flora, executivo responsável pela nova unidade.

Segundo ele, a sugestão do banco é que o investidor aplique a partir de R$ 50 mil.

ENTENDA O CASO

Esteves foi preso após ter seu nome envolvido em conversa do senador Delcídio do Amaral (ex-PT-MS) com o filho do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró, preso sob acusação de envolvimento em corrupção na estatal.

Na conversa, gravada pelo filho de Cerveró, o senador diz que Esteves teria aceitado pagar R$ 1,5 milhão ao advogado que defendia o ex-executivo da petroleira desde que o BTG não fosse envolvido na Lava Jato.

Posteriormente, o ex-senador inocentou, contudo, o banqueiro.

Em mensagem enviada ao STF por meio de seus advogados, Delcídio afirmou que a menção ao nome de Esteves foi um blefe "para dar à família de Cerveró uma ideia de que poderia obter algum consolo ou mesmo a tão exigida vantagem".

Esteves, que sempre negou as acusações, foi solto em dezembro de 2015, quando passou a "recolhimento domiciliar". Em abril deste ano, decisão do ministro do STF Teori Zavascki permitiu que ele voltasse ao trabalho.

A Procuradoria-Geral da República apresentou ao STF denúncia contra Delcídio e Esteves, que são acusados, por exemplo, do crime de impedir a investigação de infrações penais (3 a 8 anos de prisão).

Esteves também é investigado em inquérito sob suspeita de obter junto ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha, vantagens com a aprovação de medidas provisórias favoráveis ao banco. Ele nega irregularidades.

Os dois casos foram remetidos à Justiça Federal do Distrito Federal.

O BANCO

Desde que o caso veio a público, o banco, que estava entre os maiores do país, sofreu saques de investidores.

Pérsio Arida, sócio do banco e ex-presidente do Banco Central, assumiu o conselho de administração.

Para conter a crise, foram vendidos ativos e parte da carteira de crédito.

Os escritórios de advocacia Quinn Emanuel, dos EUA, e Veirano Advogados, brasileiro, realizaram auditoria interna e afirmaram que não fram encontrados indícios de que o banco ou Esteves tivessem participado de "atos ilícitos ou de corrupção".

No início deste mês, o BTG anunciou o nome de Roberto Sallouti como presidente-executivo do banco. Marcelo Kalim vinha dividindo com ele o posto e passou a presidir o conselho de administração no lugar de Arida.


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