Folha de S. Paulo


Facebook cria ferramenta de censura geográfica para voltar à China

Dado Ruvic/Reuters
A man is silhouetted against a video screen with an Facebook logo as he poses with an Samsung smartphone in this photo illustration taken in the central Bosnian town of Zenica in a file photo taken August 14, 2013. Facebook Inc will buy fast-growing mobile-messaging startup WhatsApp for $19 billion in cash and stock, as the world's largest social network looks for ways to boost its popularity, especially among a younger crowd. REUTERS/Dado Ruvic/Files (BOSNIA AND HERZEGOVINA - Tags: BUSINESS TELECOMS) ORG XMIT: TOR903
Facebook busca entrar no mercado chinês com ferramenta de censura

Mark Zuckerberg, presidente-executivo do Facebook, cultivou relacionamentos com os líderes da China, entre os quais o presidente Xi Jinping. Fez múltiplas visitas ao país para reuniões com os principais executivos locais de Internet. Esforçou-se por aprender mandarim.

Dentro do Facebook, o esforço por retornar à China é ainda mais profundo.

A empresa vem discretamente desenvolvendo um software para bloquear a publicação de posts nos news feeds de usuários de certas áreas geográficas, de acordo com atuais e antigos funcionários da empresa, que solicitaram que seus nomes não fossem revelados porque a ferramenta é confidencial. O recurso foi criado para ajudar o Facebook a entrar na China, mercado no qual a rede social foi bloqueada, disseram essas fontes. Zuckerberg apoia e defende esse esforço, acrescentaram as fontes.

O Facebook não pretende bloquear posts por sua conta. Em lugar disso, ofereceria o software para permitir que terceiros –no caso, mais provavelmente uma empresa chinesa parceira– monitorassem as reportagens e temas mais compartilhados por usuários na rede social. O parceiro do Facebook teria pleno controle para decidir se esses posts permaneceriam nos news feeds dos usuários.

Os atuais e antigos funcionários do Facebook acautelam que o software é uma das muitas ideias que a empresa discutiu para tentar ingressar no mercado chinês. Até o momento, o recurso não foi colocado em uso e não existe indicação de que o Facebook o tenha oferecido às autoridades chinesas.

Mas o projeto ilustra até que ponto o Facebook pode estar disposto a comprometer um dos pontos centrais de sua missão, "tornar o mundo mais aberto e conectado", a fim de ganhar acesso ao mercado formado pelo 1,4 bilhão de chineses.

O software de censura é contencioso dentro da empresa. Diversos funcionários que trabalharam no projeto pediram demissão depois de expressar reservas quanto a ele, disseram as fontes.

Tantos funcionários perguntaram sobre o projeto e as ambições da empresa quanto à China, em um fórum interno, que em julho isso se tornou assunto de uma das conversas semanais entre os dirigentes e o pessoal do Facebook, que acontecem nas tardes de sexta-feira. Zuckerberg disse ao pessoal que os planos do Facebook para a China eram incipientes. Mas também adotou um tom pragmático quanto ao futuro, de acordo com funcionários que participaram das sessões.

"É melhor para o Facebook participar de uma conversa enriquecedora, mesmo que ela seja restrita", disse Zuckerberg, de acordo com funcionários da empresa.

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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