Folha de S. Paulo


Empresas de decoração diversificam ofertas no Natal

Fabio Braga/Folhapress
Marcella Daud, proprietária de uma importadora de artigos para a casa
Marcella Daud, proprietária de uma importadora de artigos para a casa

Há dez anos, Mercedes Uzuelli, 56, percebeu que o gosto por montar árvores de Natal poderia se transformar em um negócio rentável. Foi assim que surgiu a Amigas de Noel, empresa especializada em locação e montagem de decorações e iluminação.

No primeiro ano, o serviço era oferecido para pequenos comércios e residências. Logo no ano seguinte, a cartela de clientes já incluía empresas e varejistas.

O que era para ser apenas um negócio de Natal se expandiu para "decorações temáticas" em geral, como Páscoa e festa junina.

Ainda assim, 80% do faturamento da empresa concentra-se na festa natalina.

Aproveitar a empresa para diversificar o negócio ao longo do ano é mais recomendado do que trabalhar apenas alguns meses, diz Renan Kaminski, sócio da consultoria 4blue, especializada em pequenas companhias.

"É um risco para a empresa trabalhar só no Natal. É como se ela desse um tiro de canhão uma única vez ao ano. Caso haja qualquer erro, ele só poderá ser corrigido no ano seguinte, e a empresa pode quebrar", alerta.

Em negócios sazonais como o de Uzuelli, a palavra "planejamento" ganha ainda mais peso. "A empresa tem que entender que ter uma venda muito grande em uma certa época do ano gera impactos", diz Kaminski.

Um deles é no caixa do negócio. "A empresa compra de seus fornecedores algum tempo antes de começar essa venda especial e, por isso, precisa ter dinheiro para 'antecipar' esse grande volume de compra. Se esse valor já não estiver no plano, ela vai precisar fazer um empréstimo, o que pode iniciar uma bola de neve", explica.

Na Detalhes de Classe, importadora de artigos para a casa, o Natal começa bem antes de dezembro. "Como a maior parte das nossas vendas é no atacado, as lojas compram em agosto, e nós nos planejamos para trazer os importados no primeiro semestre", diz Marcella Daud, 28, dona do negócio.

Ainda assim, a empresa vê o faturamento aumentar em torno de 20% em dezembro com pedidos de reposição.

RESERVA

Adriana Salles, 41, já havia trabalhado em uma empresa de decoração para shoppings quando, em 2006, fundou seu próprio negócio de aluguel de árvores e objetos de Natal.

"Começamos com esse foco, mas depois ampliamos o leque para outras festas. Hoje, temos um planejamento bem estratégico para atender as outras épocas do ano, e o Natal representa 30% do faturamento", afirma.

Há cerca de um ano, o negócio passou por um aperto: o local onde o estoque era guardado inundou. "São dez anos acumulando objetos, perdemos três caçambas de coisas", conta Salles. "No fim, foi bom porque acabamos renovando o estoque. Mas a questão do dinheiro foi resolvida na base do susto."

Para situações como essa, Kaminski reforça a importância de a empresa ter capital de giro e de reserva. Segundo ele, o usual é uma reserva de seis meses de despesas fixas. Por exemplo: se a empresa tem um gasto mensal de R$ 20 mil, seria bom ter R$ 120 mil guardado.

"Isso daria seis meses para que ela pudesse se recuperar de algum imprevisto", diz.

No caso de negócios com vendas sazonais, no entanto, essa reserva pode ser ainda maior. "Se a empresa tem só seis meses de reserva, mas a venda naquele Natal foi muito ruim, ela não vai ter capital para esperar até o próximo para se recuperar. De uma forma simplista e em um cenário ideal, seria interessante que ela tivesse um ano de capital guardado", afirma Kaminski.


Endereço da página: